a vida corre
mais rápida
que nós
precisamos
encontrar a
velocidade da flor
e ficar
SÉRGIO LIMA SILVA
todo poeta nasce morto
isso explica sua briga
inútil com a vida
ataca palavras
e delas se defende
se transforma em estátua
quando a bomba se acende
converter a pétala
ao seu ponto de
origem da cor
melhor lembrar
o azul imaginário
pendurado entre
o poro e o amparo
assim te chamo
ou não declaro
sinto porque
do som surgir
novo estuário
assim te inflamo
longe do fogo
assim te amo
longe do fogo
longe da pedra
longe da lavra
longe do jogo
longe da palavra
assim te amo
minha baixa imunidade
não me permite tocar as palavras
esse meu silêncio
pelo que me lembro
antecipa meus ossos
gostaria de ver meu corpo florir
antes da primavera
mas o inverno me cobre
incólume
a água ultrapassa os limites
e me transborda com ela
as estações elegantes
me carregam nas suas lapelas
sei para onde vão as mães
depois que morrem
a saudade forma um túnel
e a luz que vem
em sentido contrário
as transformam em cinzas e ossos
sei para onde vão os automóveis
depois que morrem
o desejo forma uma esteira
nivelando tudo ao solo
e os transformam em borracha e óleo
não sei para onde vão os poemas
depois que morrem
aqui por exemplo
deveria ser outra palavra
e aqui outra
e ali outra
cansei de esperar pessoas
espero coisas
espero a noite carregada de anexos
estrelas nuvens escondidas
lua sobreposta à cicatriz do céu
a escuridão ancorada na memória
depois virão outras coisas
talvez carregadas de pessoas inesperadas
talvez livres me abracem
como seu eu fosse
uma coisa qualquer
a vida corre mais rápida que nós precisamos encontrar a velocidade da flor e ficar