raramente grampeio as páginas
deixo as folhas soltas
espero o vento
quem sabe palavras
venham junto
SÉRGIO LIMA SILVA
raramente grampeio as páginas
deixo as folhas soltas
espero o vento
quem sabe palavras
venham junto
O
OP
OPA
OPAS
OPASS
OPASSA
OPASSAD
OPASSADO
O PASSADO
OPASSADO
PASSADO
ASSADO
SSADO
SADO
ADO
DO
O
palavras invisíveis
despregam do sono
é feita de giz
a raiz do abandono
minha solidão
não tem dono
o amor é uma figura de linguagem
costumava repetir isso
quando as declarações eram solicitadas
fazia isso introduzindo gestos
em lugares desconhecidos
por qualquer declaração
o amor são gestos
queria dizer
porém usava como figura
não havia como
ser mais claro
o modo como o sol
ultrapassava o dia
sem grampear
o suor nas costas
apenas gotejava
antes de pensar
como se um rio
pudesse escrever num poema
sua coreografia molhada
e recortasse com isso
a sombra escondida nas palavras
quem já foi soldado sabe
como se abre um corpo
como sabe um pescador
como se abre um peixe
entre as guelras
alguns segundos de esperança
instalada entre as águas
como se instala entre as orelhas
entre uma paz e outra
a lua ao fundo
antes da lua a árvore
com seu vestido verde
e sapatos escuros
entre os cabelos da árvore
a lua ao fundo
ou a lua é um pensamento da
árvore
que daqui enxergo
raramente grampeio as páginas deixo as folhas soltas espero o vento quem sabe palavras venham junto