domingo, 27 de outubro de 2019

terça-feira, 15 de outubro de 2019

COROLÁRIO DO INSIGNIFICANTE



recolho-me à minha insignificância
e resolvo existir
tento levantar o meu corpo
sinto muita dificuldade
mas consigo
preciso carregá-lo pelas ruas
não sem antes vesti-lo
utilizo roupas iguais a diversas roupas
que diversas pessoas em diversos lugares
estão utilizando neste mesmo momento
alimento o meu corpo com uma refeição
que evite um desmaio até anoitecer
chego ao local onde o proprietário me fornece dinheiro
para que eu possa pagar as minhas contas
em troca submeto o meu tempo
a minha paciência parcimônia
conhecimentos inespecíficos
e mesmo assim todos os meses
protelo algumas contas
cumpro regras horários gestos desqualificados
hipocrisias qualificadas
tudo que poderia ser meu
ou o que eu gostaria de fazer
guardo no estômago
porque o coração não bate bem
nem a minha cabeça
e o meu sangue forma um rio que não corre para o mar
o tempo me faz de utensilio
mas ainda não sei onde estou pendurado
sinto o sacolejar constante
que me mantem acordado
mesmo assim eu sonho
mas nunca me lembro

sábado, 12 de outubro de 2019

BRINQUEDOS


retorno à infância

brincando com as palavras

eu as desmonto espalho

movo removo aponto e escondo

e como todos os brinquedos

de quem não tem medo

aos poucos vão sendo esquecidos

e os brinquedos olham para os donos

como se eles tivessem crescido

entendem o abandono

e se mostram nos sonhos renascidos

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

DEDO EM FLOR


meu dedo nasceu num jardim
sozinho
nem parecia um dedo
parecia um pedaço do medo
que fugia da mão subterrânea
mesmo assim continuou crescendo
e agora aponta para o céu
na sua unha o mundo refletido
o mundo sem sentido
espalha o azul ao redor do dedo
poderia ser outra cor
mas escolheu a cor que acorda mais cedo
assim o sonho do dedo
logo se acaba

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

terça-feira, 8 de outubro de 2019

PARA QUEM MERECE VOAR


pessoas voam quando merecem
nunca passei de um metro
as asas se mereço
não sei o endereço
minhas omoplatas sob o asfalto
arranham os pneus
talvez o mundo seja a minha asa
e o ar a minha casa

DEPOIS QUE MORREM

  sei para onde vão as mães depois que morrem a saudade forma um túnel e a luz que vem em sentido contrário as transformam em cinz...