quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

POSE Nº5

a foto é cega
tateia no escuro
formas que nunca vai tocar


POSE Nº4


a foto não me vê
a foto não tem olho
usa o olho do outro para se mostrar


POSE Nº3

a foto paralisa o tempo
forneço bolor pelo canal atento do silêncio


POSE Nº2

a foto não enxerga a alma
finjo que a minha alma é o corpo
flutuo ao redor do olho da lente
bombeio sangue no escuro
até surgirem as sementes


POSE Nº1

a dor não aparece na foto
poso com o peito aberto
o coração na mão suspenso
na tentativa de evitar
que a corda quebre o seu pescoço


terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

FALÉSIAS

desembarco nas costas
meu barco de papel escrito em outro idioma
lança âncoras maduras repletas de bichinhos de frutas
meus pés mergulham na água e se embriagam
tomam rumos e desmaiam
sinto as marcas das esporas nas costas
falésias retorcidas pelo vento
queloides que o mar não consegue engolir
navego na mesma esfera onde o sol se apaga



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

LÂMINA

a pele não sabe a lâmina
sabe o corte e se abre
desabrocha em sangue
como uma flor num poema
rasgando o silêncio
exala o perfume da dor
e a cor se espalha
umedecendo a página


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

SAUDADES DA ALMA

já tive saudades da alma
quando eu era vivo
agora ela seca ao meu lado
imobilizada pela terra 
pelo tempo 
pela calma


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

QUEDA

nem toda queda é uma sombra
a luz também faz buracos
e forma um estranho sulco
onde nenhuma sombra cabe


CACOS

então é para isso que serve as palavras?
perguntou enquanto se abaixava
serve também para isso
retruquei
e
lentamente
enquanto ele recolhia os cacos das palavras misturadas ao sangue do corpo inerte
temi que nunca mais fosse possível formar outras palavras


FOLHAS SOLTAS

  raramente grampeio as páginas deixo as folhas soltas espero o vento   quem sabe palavras venham junto