sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

AXILAS

moças brancas despencam
do sol
como axilas
eu murmurado por alguma boca
palavra que não alcança
ser ouvida
invento mares de fenos
espero dentes ruminantes
masco o mundo desamparado
destempero mais que a vontade
furos que embriagam furos
provocam os muros
e seus espasmos

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

INQUIETAÇÃO

a inquietação sob a pele
quase osso
mantenho-me calmo
quase morto
acendo claridades ao longe
meu corpo o pavio
a inquietação soube
ser um nervo quase exposto
agora cor sobre a pele
musgo ou lágrima do sol

ESQUECIMENTO

gostaria de lembrar
relacionar a lembrança
a algo acontecido
uma música
um fragmento de poema
um romance
gostaria de lembrar
algo que lembrasse o acontecido
um gesto
um cheiro
o barulho de um rio
gostaria de lembrar
algo aconteceu
e não consigo relacionar
com nenhuma outra lembrança
gostaria de lembrar

ORBITAL

meu coração voltou
estava em órbita
aprendendo estrelas e destinos
espero que o meu sangue o aceite
e consiga circular
mesmo sem entender brilhar

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

ANATOMIA DO NADA

diante da disposição
dos corpos sobre a mesa
conclui-se as perdas
lembrei de mim de ti
dos telhados de ardósia
e do modo como as flores amarelam
lembrei de retirar o meu corpo
antes da distração da sorte
o não dizer usando o corpo
a palavra inerte em cada fala
lembrei
nem lembro se lembrei
ou criei tudo isso


COCA-COLA

gás
street

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

ENQUANTO O MUNDO NÃO ME ACABA

começo pelo fim
porque é o melhor começo
o fim justifica o medo
e tudo que estiver relacionado
a vida e seus fantasmas
meu modo de mastigar e as fontes
tudo é menor enquanto caminho
tudo cresce quando espero
o intervalo entre um passo e outro
essa quase queda
torna a minha espera eterna
quem sabe o que virá minta
quem não sabe minta de qualquer maneira
a verdade com o tempo 
não clareia



LENÇOL

pendurado ao lençol
a lua pendurada no azul
os sonhos fragmentados no chão
flutuo porque não vejo
uso as mão como leme
eu sei qual a minha distância
entre o lençol e o azul
são essas palavras

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

ESPUMAS

espumas de saliva
meu lábio abraçado ao rio
a vida sempre ensina aonde desaguar
nem todo rio corre para o mar

JARDIM

imagino palavras árvores
poder trocá-las de posição
esquecer as raízes
praticar o chão

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

QUEDAS AGUDAS

já desmaiei com paredes
e desmaiei sem paredes
assim como o tijolo entende o cimento
a pele entende o osso
assim como a flor estende a primavera
o sol estende esferas
prefiro continuar meus desmaios
com paredes ou sem
apresento ao chão meu corpo
da maneira mais aguda

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

ALGUMA COISA

estou sentindo alguma coisa
mas não sei o que é
é bom saber
que estou sentindo alguma coisa
mas não é bom não saber o que é
talvez um sentimento
que eu nunca tenha sentido
ou algum antigo
que eu tenha esquecido
talvez nem seja um sentimento
estou pensando que estou sentindo
e seja só pensamento
talvez eu não sinta a diferença
entre sentir e pensar
e eu esteja sentindo exatamente isso
essa diferença
e a esteja confundindo
com algum sentimento sem sentido
talvez eu nem esteja sentindo nada
só queira fazer
esse amontoado de palavras

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

TRÉGUA

dou-me uma trégua
e esqueço meu corpo na trincheira
misturado à lama
onde ninguém possa vê-lo
mas que possa ser pisado
pelos outros soldados
e depois de mastigado pelos coturnos
e embebido pelos gritos
possa retornar ao princípio
e encontrar em si mesmo o inimigo

MORTE

esse silêncio
que não se acaba

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

OUTRO CAMINHO

existe um caminho mais curto
mas eu não quero
quero o passo gasto
o tempo gasto
a possibilidade do encontro
com o infinito

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

PRAÇA DE SÃO PETERSBURGO

sobretudo de modo inexplicável
o ócio da estátua lembrou-me a tua presença
a estátua e seus ossos
espreguiçando a praça entre meus olhos
as folhas dormidas entre os passos e as falhas
acontecidas durante o inverno
parecia dezembro
no entanto eu respirava algo parecido com o fim

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

INVISÍVEL

enxergo o impossível
quando estou invisível
enxergo o final do poema
sem a minha presença
meu corpo não acompanha
o calor do meu coração
e mesmo invisível se mostra
da maneira que eu imaginava

LEVE

há uma parte no meu corpo
que não suporta peso
por isso escrevo

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

ELIPSES E ECLIPSES

a poesia é elíptica
assim como os cães enfileirados
cagam diante da prisão
sem noção de onde estão
a poesia é eclíptica
assim como a tarde
esconde o que ninguém sabe
a tarde sabe bem que a poesia
não faz bem nenhum
e toda essa conversa é ultrapassada
essa de estabelecer a poesia elíptica ou eclíptica
tudo é conversa de quem não tem o que dizer

NATUREZA MORTA

quem carrega o mar entre os ossos
mira com areia em terreno raso
quem tem a alma mais larga que deus
sabe onde o mundo se acaba
meu coração se debate entre o sal e o céu
perdido entre as folhagens
confundido com nuvens
mastigadas por colhedores de frutas
ou confundido com um nervo exposto
a algum olhar maternal

ANSIEDADE

ir

DEPOIS QUE MORREM

  sei para onde vão as mães depois que morrem a saudade forma um túnel e a luz que vem em sentido contrário as transformam em cinz...