terça-feira, 30 de janeiro de 2018

MEU PERFIL

por mais que eu fuja
meu perfil me segue
já bloqueei já deletei
não teve jeito
não sei como me livrar
desse sujeito
meu perfil me segue
como se fosse
minha sombra
troquei de corpo
troquei de roupa
e o meu perfil
não me deixa
já tentei esquecer
já apresentei queixa
não sei como
resolver esse problema
minha última chance
é escrever esse poema
quem sabe ele se toque
e se entoque
entre as palavras
quem sabe
fique mais calmo
ao se sentir publicado
quem sabe
fique perdido
nas páginas do livro
quem sabe
ele se convence
que esse perfil
não me pertence




quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

MAIOR QUE A BOCA

quando a palavra
é maior que a boca
não deve ser dita
deve ser escrita
e por não caber na boca
não deve ser lida
e por não ser lida
não deve ser palavra
deve ser poema
poema não precisa de palavra
precisa da leitura
que caiba na boca
precisa ser dita
mesmo sem palavra
que é escrita
ao ser pronunciada


segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

ENTENDENDO LIQUIDOS

por não entender os líquidos
não aprendi a amar

amar requer escorrer
desrespeitar fendas
saber ser represado
evaporar sem doer
chover sem sangrar
ser bebido sem engasgos

aprender a dançar com o fogo
fingir que está morto gelado
amar requer 
caber num copo
sem fundo



quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

LEITE DE PEDRA

o leite da pedra
tem gosto de treva
a teta da pedra
entreva a mão
distorce o balde
a sombra da pedra
em constante coice
afeta a cabeça
de quem pensa
extrair da pedra o leite
o leite da pedra
tem cor da dor
de quem ordenha
diante da pedra
e da sede do leite
não se detenha


quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

POR ONDE VAZA O MEU CORPO


amanheci com um gosto de insônia na boca
pensei mastigar sonhos eram desejos
da noite porosa vazou meu corpo
entre uma estrela e outra
meus sonhos apagados


segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

PAREDE

o artista é uma parede
cujo alicerce não tem sede
embora divida o mundo
entre o que pede e o que perde
está repleto de água contaminada
para não sujar o mundo
inventa outra água mais limpa
transforma a alma numa cacimba
mas não destampa



CARNE DE PRIMEIRA



não estou preocupado com a cor do vento
conseguir respirar já me basta
nem cavar açudes pra esconder a lágrima
nos buracos que faço prefiro me esconder
nessas crateras pés estranhos me esmagam
sabendo que sou terra
não desenho gado pensando no açougue
nenhum desenho ou palavra conseguem me enxergar
estou longe
procurando um gancho onde me pendurar

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

ENTRE BURACOS

a vida devia ser diferente
começar de trás pra frente
e entre o buraco do final
e o buraco inicial
pudéssemos traduzir
a escuridão comum aos dois
do mesmo modo
como o tempo traduz
nossas sombras sem luz


domingo, 7 de janeiro de 2018

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

PASSOS

para ir
precisarei de passos
não tenho pés
como avançar nesse espaço
posso ir
sem me movimentar
basta pensar
vou a qualquer lugar
vai parecer
que nem estou
me movimentando
quando já estarei
voltando


DEPOIS QUE MORREM

  sei para onde vão as mães depois que morrem a saudade forma um túnel e a luz que vem em sentido contrário as transformam em cinz...