segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

QUARAR

como se soubesse que o sol
nunca mais vai nascer
o cego recolhe seus olhos na gaveta
pendura o corpo no armário
e deixa a sua alma secando
entre a poesia
e outras palavras
menos frias


NÚMEROS

durante a confecção dos números
os ossos ficaram comportados
poderiam falar dos brincos
pendurados nos olhos
ou do princípio de tudo
preferiram observar o modo
como o infinito procurava
aprender a ser o último


DORES SUPORTÁVEIS

incorporo a dor ao meu corpo
eu não queria ser pedra
mesmo sendo
rolo montanha abaixo
rolo rio acima
até me tornar
insuportável


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

BAGA


veias não se capturam
parecem dormentes
por isso o trem as aquece
imóveis escuras
uma dor que se junta às outras
até formar uma corrente
onde ninguém ficará preso
veias escondem o sangue
e sob a pele e sob a distância
vozes murcham
como se fossem flores
na lapela do coração de Paris


CUMEEIRA


no meio da parede
uma imagem do deserto
parecia uma janela aberta
mas era um olho
envolvido num plástico
sob a tempestade de areia


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

TRANSBORDAMENTO

estou cheio
o que posso fazer
a não ser transbordar as palavras
que não molham nada
não há um espaço que caiba
não há sede que cesse
não há corpo que afogue



O LIVRO TERMINADO


terminei o livro
todas as palavras
estão guardadas dentro dele
as que eu quis
e as que eu não quis
alguns fragmentos ficaram guardados
por alguns momentos
depois esqueci
não faço questão de lembrar
aliás nem sei de que livro
estou falando


O PODER DESCE DO SALTO


o poder desce do salto
e dobra os joelhos
pinga dois olhos na face
e descobre um mundo
que não o entende
logo abaixo do nariz
cospe uma boca cujo desenho
impossibilita o sorriso
pensa que é grande
mas não alcança o piso
só sonha quando dorme
parece que é completo
mas os seus pedaços
formam algo parecido
com o incompleto

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

PALAVRAS ESTRAGADAS

o dia não se curva
diante da minha certeza
duro como um espelho
repete o que ainda não foi dito
o que pensei
eram palavras estragadas
mas feriam menos que o silêncio


BRAÇO RECOLHIDO

recolho os meus braços
até onde eu posso
alcanço por dentro
o espaço de uma poça
mergulho meu gesto
meu centro
de modo que a água
não me ouça

DEPOIS QUE MORREM

  sei para onde vão as mães depois que morrem a saudade forma um túnel e a luz que vem em sentido contrário as transformam em cinz...