superar o limite do sonho
e acordar com a vida em punho
usá-la pra recortar
tudo que foi encaixado na noite passada
comer os cacos
engolir os frascos
onde a cabeça estava guardada
segunda-feira, 30 de julho de 2012
PRECIOSAS
lapidar palavras
é para os fracos
dilapidar palavras
é para os francos
ser fraco ou franco
requer incerteza
no meu sincero silêncio
ergo minha fortaleza
é para os fracos
dilapidar palavras
é para os francos
ser fraco ou franco
requer incerteza
no meu sincero silêncio
ergo minha fortaleza
PANCADA DE VENTO
pancadas de vento
empurram os corações
para bem longe
algumas vezes os corpos vão junto
nunca tive essa sorte
meu coração perdeu-se na poeira
e o meu corpo ficou
dando voltas no ar
até ficar gravado aqui
nessa página
quinta-feira, 26 de julho de 2012
MODO DE LEVANTAR
a lua o sol
ou qualquer outro objeto
dependurado lá fora
ou as pessoas que caminham
ou as penduradas em automóveis
ou as que se arrastam e as que flutuam
ou os animais arrastados por coleiras
ou os que pensam que estão soltos
ou as plantas
que aproveitam para pensar
enquanto dormimos
tudo que citei
e todas as outras que não cabem
na minha cabeça ou na tua
nada disso
vai se importar
se tu vais por os pés no chão e caminhar
ou enfiar os pés em algum couro
ou em algo plastificado
ou se vais empurrar tua cadeira de rodas
ou se vais te arrastar sem as pernas
nada disso
ninguém está preocupado
se ainda tens pernas ou braços
ou se estás pensando em algo
ou se o teu cão arrancou
a flor que tens desenhada no teu carro
sugiro que volte a dormir
troque o sonho pelo pesadelo
assim acordarás mais rápido e com medo
e porás os pés no chão
como se fosse um segredo
ou qualquer outro objeto
dependurado lá fora
ou as pessoas que caminham
ou as penduradas em automóveis
ou as que se arrastam e as que flutuam
ou os animais arrastados por coleiras
ou os que pensam que estão soltos
ou as plantas
que aproveitam para pensar
enquanto dormimos
tudo que citei
e todas as outras que não cabem
na minha cabeça ou na tua
nada disso
vai se importar
se tu vais por os pés no chão e caminhar
ou enfiar os pés em algum couro
ou em algo plastificado
ou se vais empurrar tua cadeira de rodas
ou se vais te arrastar sem as pernas
nada disso
ninguém está preocupado
se ainda tens pernas ou braços
ou se estás pensando em algo
ou se o teu cão arrancou
a flor que tens desenhada no teu carro
sugiro que volte a dormir
troque o sonho pelo pesadelo
assim acordarás mais rápido e com medo
e porás os pés no chão
como se fosse um segredo
ONDA SONORA
melhorei minha culpa
meu coração de peruca
passeia disfarçado
entre os cogumelos
pareço chorar
mas a minha alma
por dentro está enxuta
e quem me escuta
há de me dizer
por onde a minha alma anda por dentro
há de saber
que o meu corpo tornou-se
uma onda sonora
de um instrumento
que ainda vão inventar
meu coração de peruca
passeia disfarçado
entre os cogumelos
pareço chorar
mas a minha alma
por dentro está enxuta
e quem me escuta
há de me dizer
por onde a minha alma anda por dentro
há de saber
que o meu corpo tornou-se
uma onda sonora
de um instrumento
que ainda vão inventar
terça-feira, 24 de julho de 2012
CORPO ESTRANHO
eu não conheço aqui
eu não conheço ali
desconheço algum lugar que me reconheça
meu corpo estranho bóia no meu olho
sinto-me um estranho dentro de um olho
uso a paisagem como meu colírio
faço das palavras meu delírio
e permanece lúcido meu olho
eu não conheço ali
desconheço algum lugar que me reconheça
meu corpo estranho bóia no meu olho
sinto-me um estranho dentro de um olho
uso a paisagem como meu colírio
faço das palavras meu delírio
e permanece lúcido meu olho
SANGUE DESCONHECIDO
o sangue quase seco na mão
pegajoso cola os poros
respiro impaciência
um colar de chãos
envolve o meu pescoço
passeiam sobre mim
essas palavras
essas pessoas
o sangue seco na mão
pena que não é o meu
pegajoso cola os poros
respiro impaciência
um colar de chãos
envolve o meu pescoço
passeiam sobre mim
essas palavras
essas pessoas
o sangue seco na mão
pena que não é o meu
PRÍNCIPE ENCANTADO
não mergulhei no lago
em busca de algum sapo
para beijar
mergulhei no lago
porque eu não sabia nadar
e se algum pretendente
enxergar o lago
e no meio do lago
meu braço erguido
será coroado
o meu príncipe encantado
em busca de algum sapo
para beijar
mergulhei no lago
porque eu não sabia nadar
e se algum pretendente
enxergar o lago
e no meio do lago
meu braço erguido
será coroado
o meu príncipe encantado
sexta-feira, 20 de julho de 2012
PARA ENTENDER
às vezes entendo
teus poemas
a maioria das vezes não
os que entendo
são aqueles sem palavras
aqueles desprovidos de página
os que não entendo
também estão sem palavras
mas eles me escrevem no mundo
como se ele fosse uma página
teus poemas
a maioria das vezes não
os que entendo
são aqueles sem palavras
aqueles desprovidos de página
os que não entendo
também estão sem palavras
mas eles me escrevem no mundo
como se ele fosse uma página
AR DE ARADO
frio sem arrepio
o pássaro lambe a manhã
até molhar um canto
poro arejado
porejar o arado
até formar um pranto
fios se emborracham
com pouca eletricidade
nenhuma energia garante
sentir a velocidade
o pássaro lambe a manhã
até molhar um canto
poro arejado
porejar o arado
até formar um pranto
fios se emborracham
com pouca eletricidade
nenhuma energia garante
sentir a velocidade
quinta-feira, 19 de julho de 2012
SENTADO
sentado
sendo olhado pelo
mundo
sendo olhado por mim
pareço perdido
isolado
não disfarço quando me perco
grito para dentro
não escuto
crio muros
e nem me mexo
espero
o momento exato
e me levanto
sendo olhado pelo
mundo
sendo olhado por mim
pareço perdido
isolado
não disfarço quando me perco
grito para dentro
não escuto
crio muros
e nem me mexo
espero
o momento exato
e me levanto
TEMPO QUE ME ENGOLE
o tempo me despela
estranha entranha
que me engole
sem dar goles
lençóis encobrem o céu
em grande escala
são a minha pele
arrancada pelo tempo
entranha imensa
engole minha cabeça
sem pagar a recompensa
estranha entranha
que me engole
sem dar goles
lençóis encobrem o céu
em grande escala
são a minha pele
arrancada pelo tempo
entranha imensa
engole minha cabeça
sem pagar a recompensa
terça-feira, 17 de julho de 2012
DEPOIS QUE O VENTO PASSAR
vai passar
vai passar
esse vento
impertinente
desmanchando a praia
jogando areia nos olhos
vai passar
antes que o sal da água se apague
e a água doce lave os olhos
vai passar
esse vento
sem rodeios
derrubando tudo por dentro
quebrando coisas
difíceis de consertar
e outras impossíveis
mas que permanecerão sempre aqui
depois que o vento passar
vai passar
esse vento
impertinente
desmanchando a praia
jogando areia nos olhos
vai passar
antes que o sal da água se apague
e a água doce lave os olhos
vai passar
esse vento
sem rodeios
derrubando tudo por dentro
quebrando coisas
difíceis de consertar
e outras impossíveis
mas que permanecerão sempre aqui
depois que o vento passar
POR TODO LADO DO CORPO
meu lado esquerdo
envelhece mais rápido
que o meu lado direito
meu coração mais velho
que a minha mão direita
quer tornar a felicidade
uma obrigação de
todos os lados do corpo
a mão esquerda que não pensa
até porque não há razão pra isso
sufoca o coração
até ele entender
que não existe o paraíso
envelhece mais rápido
que o meu lado direito
meu coração mais velho
que a minha mão direita
quer tornar a felicidade
uma obrigação de
todos os lados do corpo
a mão esquerda que não pensa
até porque não há razão pra isso
sufoca o coração
até ele entender
que não existe o paraíso
quinta-feira, 12 de julho de 2012
IDADE DOS BRINQUEDOS
os brinquedos não acompanham
o envelhecimento da infância
objetos virtuais de plástico
submersos no lodo da lembrança
obstruem a passagem
dos adultos afogados na esperança
o envelhecimento da infância
objetos virtuais de plástico
submersos no lodo da lembrança
obstruem a passagem
dos adultos afogados na esperança
SANGUE DE POESIA
o sangue da poesia
sempre é desproporcional à queda
não é arterial nem é venoso
mais epitelial do que venenoso
mais normal que assombroso
o sangue da poesia
não cabe num corpo
talvez numa multidão
se encontrasse algum coração
sempre é desproporcional à queda
não é arterial nem é venoso
mais epitelial do que venenoso
mais normal que assombroso
o sangue da poesia
não cabe num corpo
talvez numa multidão
se encontrasse algum coração
quarta-feira, 11 de julho de 2012
CÉU INTERNO
a noite finge orgasmos
molhando a lua
as nuvens formam palavras
que o céu apaga
o céu azul não é o meu
papel em branco
escrevo planto e arranco
vista do alto
minha cabeça parece solta
sob ela um corpo enrugado
carrega um céu interno
mais inverno que moderno
já passei da idade
de sentar nas nuvens
elas são manchas
espalhadas pelo meu corpo azul
abraçado ao mundo
molhando a lua
as nuvens formam palavras
que o céu apaga
o céu azul não é o meu
papel em branco
escrevo planto e arranco
vista do alto
minha cabeça parece solta
sob ela um corpo enrugado
carrega um céu interno
mais inverno que moderno
já passei da idade
de sentar nas nuvens
elas são manchas
espalhadas pelo meu corpo azul
abraçado ao mundo
sexta-feira, 6 de julho de 2012
IDÉIA
a idéia
espreme a testa
até sair uma cabeça
e ela
entre dois mundos
ou dois dedos
pensará que é medo
o que parece fundo
e encolherá
entre a testa
e o crânio
até vencer
o tamanho
espreme a testa
até sair uma cabeça
e ela
entre dois mundos
ou dois dedos
pensará que é medo
o que parece fundo
e encolherá
entre a testa
e o crânio
até vencer
o tamanho
SEMPRE SERÁ BREVE
não importa o acúmulo das horas
sempre será breve o nosso tempo
nem gravar o som dos momentos
sempre será breve o nosso tempo
não adianta esperar lá fora ou aqui dentro
sempre será breve o nosso tempo
nem expor o nervo à prova
sempre será breve o nosso tempo
acordar o músculo com a espora
sempre será breve o nosso tempo
ancorar o barco no vazio lento
sempre será breve o nosso tempo
ou esperar que um poema resolva o nosso problema
sempre será breve o nosso tempo
sempre será breve o nosso tempo
nem gravar o som dos momentos
sempre será breve o nosso tempo
não adianta esperar lá fora ou aqui dentro
sempre será breve o nosso tempo
nem expor o nervo à prova
sempre será breve o nosso tempo
acordar o músculo com a espora
sempre será breve o nosso tempo
ancorar o barco no vazio lento
sempre será breve o nosso tempo
ou esperar que um poema resolva o nosso problema
sempre será breve o nosso tempo
ADEUS AOS DENTES
penso constantemente
em me livrar dos dentes
pouco tenho sorrido
pouco tenho mordido
e os socos que me atingem
são tão fracos
nem rasgam os lábios
com a boca vazia
sobrará mais espaço
para o grito e
para a poesia
em me livrar dos dentes
pouco tenho sorrido
pouco tenho mordido
e os socos que me atingem
são tão fracos
nem rasgam os lábios
com a boca vazia
sobrará mais espaço
para o grito e
para a poesia
DESENCANTO
ao redor do mundo
é mágico
ainda não
estamos nele
por enquanto
o mundo nos empurra
para o centro
do desencanto
é mágico
ainda não
estamos nele
por enquanto
o mundo nos empurra
para o centro
do desencanto
quarta-feira, 4 de julho de 2012
HEMISFÉRICO
escrevo
costuro a ilusão
com as linhas da minha mão
enrolo a vida que me veste
com a mesma mão
desfaço o gesto
descrevo
preencho vazios
com linhas imaginárias
finco a bandeira
no lado escuro
do globo ocular
a poesia a faz tremular
costuro a ilusão
com as linhas da minha mão
enrolo a vida que me veste
com a mesma mão
desfaço o gesto
descrevo
preencho vazios
com linhas imaginárias
finco a bandeira
no lado escuro
do globo ocular
a poesia a faz tremular
POESIA ENLATADA
ninguém procura
a estante da poesia
é a última do corredor
e para chegar até ela
inúmeras escadas
corredores sem janelas
catracas
e quem consegue alcançá-la
procura a melhor embalagem
dentro do prazo de validade
sem arranhões ou amassos
sem contraindicações ou percalços
espera emoções ao abri-la
nem percebem
que os melhores conteúdos
ficaram espalhados na entrada
a estante da poesia
é a última do corredor
e para chegar até ela
inúmeras escadas
corredores sem janelas
catracas
e quem consegue alcançá-la
procura a melhor embalagem
dentro do prazo de validade
sem arranhões ou amassos
sem contraindicações ou percalços
espera emoções ao abri-la
nem percebem
que os melhores conteúdos
ficaram espalhados na entrada
segunda-feira, 2 de julho de 2012
PREFERÊNCIAS SUICIDAS
um suicida que goza com a morte
só prova isso uma vez
eu prefiro o delírio
espalhado pelo óbvio
existem outras formas de morrer
sem precisar nascer com vida
escrever por exemplo
deixar-se levar por palavras
mais fortes que a fala
só prova isso uma vez
eu prefiro o delírio
espalhado pelo óbvio
existem outras formas de morrer
sem precisar nascer com vida
escrever por exemplo
deixar-se levar por palavras
mais fortes que a fala
A DUREZA DO ABRAÇO
aprendi a abraçar
depois de morto
talvez tarde demais
o rigor morte
não permite
que me mova
de maneira adequada
permito-me abraçar
apenas o ar raro
e o escuro que me serve
de anteparo
depois de morto
talvez tarde demais
o rigor morte
não permite
que me mova
de maneira adequada
permito-me abraçar
apenas o ar raro
e o escuro que me serve
de anteparo
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ESPERANÇA
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