domingo, 26 de janeiro de 2020

HUMANO É ÁGUA


sobram apenas os ossos
e alguns botões
se estiverem juntos
talvez dentes de ouro e anéis
se estiverem juntos
talvez sobrem parentes
se estiverem juntos
sobrem lembranças
se estiverem juntas
o resto é água adubando a terra
o ser humano é água
gelo é duro
mas é água

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

PENSA QUE ESCREVE POEMAS



o cara escreve poemas
pensa que faz 
baldeação com o infinito
no entanto 
sua fala mal chega a ser um grito
apertada 
entre as páginas 
esquecida
e quando abertas 
assustada 
nunca lida

o cara escreve poemas
pensando ligar 
o claro ao opaco
porém sua palavra 
nem se torna um 
anteparo
esmagada 
sob a memória
escorre sem 
significado

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

SUBÚRBIO 6



não há mais sombras no subúrbio
o cimento comeu as árvores
crianças usam atiradeiras eletrônicas
matam inimigos virtuais
e as lagartixas proliferam em paz

SOMBRA


o sol mede forças com a sombra
a sombra não se esforça para ter cor
abraça escuro sem manchar a pele
sem usar os braços
seu coração vazio de calor pulsa ao longe
o sol escorrega entre as pregas do esforço
até perder a luz
a noite toda é sombra

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

SUBÚRBIO 5


caminho pela infância
sem lembrar
cabelos cortes cicatrizes
costuram o sol por dentro
eu sou a sombra
que se oculta em cada raio
e sinto a dor da superfície
antes de ser tocada

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

OCEAMO


Para Iri

oceanos cabem em órbitas
mesmo as que não alagam
mesmo as que apenas alargam
outros oceanos que se preparam
para ser de olhos que se alagam
para ser de olhos

O QUE FAÇO COM O SOL



o que faço com o sol não é da minha conta
se uso como conta de um colar
se colo na ponta pra contar
se canto no conto pra apontar
nada tem importância
o que faço com o sol não é da tua conta
se conto e te pões a pensar
se penso em te contar
se o sol não deveria estar nesse lugar
pouco importa
para fazer com o sol não há porta
é todo parede sem sombra
é todo de sede
e não mede
o que faço com o sol não tem a menor importância

DEPOIS QUE MORREM

  sei para onde vão as mães depois que morrem a saudade forma um túnel e a luz que vem em sentido contrário as transformam em cinz...