repouso meus pés
enquanto os suspendo
entre um degrau e outro
ergo meu corpo até o cume
cumpro o caminho
como se soubesse
os lugares onde nunca estive
permanecem
como se eu não existisse
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
COMA
o aço cirúrgico
corta o ausente
a fala é de sangue
abertura da carne
entre o campo
e o óculo
a vida pingando
enche aos poucos
os tubos da morte
corta o ausente
a fala é de sangue
abertura da carne
entre o campo
e o óculo
a vida pingando
enche aos poucos
os tubos da morte
terça-feira, 29 de novembro de 2011
ONDE GUARDAM AS LÁGRIMAS
já morei no lugar
onde guardam as lágrimas
é sal quando toca a boca
sabe-se amarga
quando sabe que a vida é pouca
perdura no rosto
o caminho que mata
onde guardam as lágrimas
é sal quando toca a boca
sabe-se amarga
quando sabe que a vida é pouca
perdura no rosto
o caminho que mata
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
O QUE O TEMPO COME
o tempo não come ninguém
as pessoas mastigam o tempo errado
mordem de lado
deixam à mostra
temperos que o tempo
finge que gosta
as pessoas mastigam o tempo errado
mordem de lado
deixam à mostra
temperos que o tempo
finge que gosta
NOTURNO EM MANHATTAN
os prédios enrugam
a pele de Manhattan
seu suor é noturno
no escuro
lembra crianças de coturno
são de pele seus passos
seu idioma é fluente na lua
as sombras despedaçadas
formam ruas
a pele de Manhattan
seu suor é noturno
no escuro
lembra crianças de coturno
são de pele seus passos
seu idioma é fluente na lua
as sombras despedaçadas
formam ruas
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
CONTRA
ser contra não dói
se houver uma lágrima não será de dor
lenço de papel não guarda lágrima
no máximo rasura a calçada
no mínimo torna a paisagem
embaçada por um breve momento
se houver uma lágrima não será de dor
lenço de papel não guarda lágrima
no máximo rasura a calçada
no mínimo torna a paisagem
embaçada por um breve momento
CÉU DE MARTE
parecia escorrer da pele
e a pele corria desaguada
ficaram os ossos
os nervos expostos na bienal
moviam-se ao som das máquinas fotográficas
todo poder obtuso da arte
pendurou meu corpo
no céu de marte
e a pele corria desaguada
ficaram os ossos
os nervos expostos na bienal
moviam-se ao som das máquinas fotográficas
todo poder obtuso da arte
pendurou meu corpo
no céu de marte
PALAVRAS
estavam aqui
fugiram com a minha presença
se alguém me fala em algum lugar
serei pouco entendido
as palavras que tenho
estão comigo amassadas
entre o silêncio e a fala
fugiram com a minha presença
se alguém me fala em algum lugar
serei pouco entendido
as palavras que tenho
estão comigo amassadas
entre o silêncio e a fala
ESPELHO
eu estava sem olhos quando me viram
ao fundo a paisagem me mostrava agitado
eu parecia o vento porém sem asas
mesmo assim planava
entre a superfície e algo parecido com a calma
ao fundo a paisagem me mostrava agitado
eu parecia o vento porém sem asas
mesmo assim planava
entre a superfície e algo parecido com a calma
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
AQUÁRIO
o peixe sonha um mar infinito
acorda contido
arrasta o aquário preso ao calcanhar
sua casa sua prisão
suas guelras acenam em vão
a esperança não tem barbatanas
repousa afogada rente ao chão
acorda contido
arrasta o aquário preso ao calcanhar
sua casa sua prisão
suas guelras acenam em vão
a esperança não tem barbatanas
repousa afogada rente ao chão
SIM NÃO
quem sempre diz sim
perde a pele
quem sempre diz não
não tem pele
quem quer sentido
prepare o ouvido
para despelar
ouça os pelos
do sim do não
ou do calar
perde a pele
quem sempre diz não
não tem pele
quem quer sentido
prepare o ouvido
para despelar
ouça os pelos
do sim do não
ou do calar
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
VÓ MARIA
a agulha cruza o tecido
prende um lado ao outro
o tempo fica solto
cai de um lado e do outro
separa corpos
nas pontas dos medos
chuleando sentimentos
os botões não encontram as casas
tornam-se flores
e perfumam silêncios
como se tivessem asas
prende um lado ao outro
o tempo fica solto
cai de um lado e do outro
separa corpos
nas pontas dos medos
chuleando sentimentos
os botões não encontram as casas
tornam-se flores
e perfumam silêncios
como se tivessem asas
MINHAS PERNAS
sei que sigo as minhas pernas
e elas se movimentam
em frente
chegam ao lugar onde não deveriam
e eu estou com elas
não questionam minhas pernas
no entanto me olham
como se minhas fossem
mas até que eu prove
que não temos nenhuma ligação
já estaremos todos mortos no chão
e elas se movimentam
em frente
chegam ao lugar onde não deveriam
e eu estou com elas
não questionam minhas pernas
no entanto me olham
como se minhas fossem
mas até que eu prove
que não temos nenhuma ligação
já estaremos todos mortos no chão
CAVALO SEM SOMBRA
parecia pura a sua crina
mas era um fardo quando engolia
parecia escura sua cauda
mas era espinhos nas ancas
trotava sem tocar o fundo
cavalgava sem se tocar
disparava se houvesse mágoas
relinchava se ouvisse águas
sob ele seu cavaleiro aos pedaços
a inútil sombra sobre o cadáver
a guia misturada à relva
o sol a pino na testa
não se adestra o destino
mas era um fardo quando engolia
parecia escura sua cauda
mas era espinhos nas ancas
trotava sem tocar o fundo
cavalgava sem se tocar
disparava se houvesse mágoas
relinchava se ouvisse águas
sob ele seu cavaleiro aos pedaços
a inútil sombra sobre o cadáver
a guia misturada à relva
o sol a pino na testa
não se adestra o destino
CARÍCIAS PÚBLICAS
quando encontrar a pele
separe dos outros objetos
acrescente às válvulas glândulas
mucosas
lavas de dejetos
mostre o que cobre a mão do lado de fora
transforme o gesto inútil
na melhor coreografia
engula o sacrifício
mostre-se anônimo
e embora aparente um ar tristonho
alegre-se por dentro com o malefício
separe dos outros objetos
acrescente às válvulas glândulas
mucosas
lavas de dejetos
mostre o que cobre a mão do lado de fora
transforme o gesto inútil
na melhor coreografia
engula o sacrifício
mostre-se anônimo
e embora aparente um ar tristonho
alegre-se por dentro com o malefício
terça-feira, 22 de novembro de 2011
SE
se for pra dizer qualquer coisa
melhor dizer
se for pra não falar nada
melhor falar
se for pra não ser percebido
melhor ser
se for pra calar
melhor sair daqui
se for pra se emocionar
procure outro lugar
se for pra perder tempo
encontrou
se acha que é poesia
achou
melhor dizer
se for pra não falar nada
melhor falar
se for pra não ser percebido
melhor ser
se for pra calar
melhor sair daqui
se for pra se emocionar
procure outro lugar
se for pra perder tempo
encontrou
se acha que é poesia
achou
ESCALA
a música escala
as paredes do tédio
usa garras
parece humana
a música nunca morre
mas quando morre
não apodrece
vira casa
as paredes do tédio
usa garras
parece humana
a música nunca morre
mas quando morre
não apodrece
vira casa
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
O QUE MEUS OLHOS
vicio meus olhos
com imagens falsas
olho para o homem
e enxergo esperança
olha para uma flor
e enxergo poesia
eu me exponho aos olhos do mundo
esperando que ele também esteja viciado
sou desse modo que me apresento
pareço sentindo tudo
mas disfarço
com imagens falsas
olho para o homem
e enxergo esperança
olha para uma flor
e enxergo poesia
eu me exponho aos olhos do mundo
esperando que ele também esteja viciado
sou desse modo que me apresento
pareço sentindo tudo
mas disfarço
ALONGAMENTO
estou perdendo a noção de espaço
por mais que me dobre
minha alma se encolhe
meu corpo se abre
bato com a cabeça no fim do mundo
meu pé o infinito ultrapassa
não caibo no que sinto
o que sinto é a razão
porque minto
por mais que me dobre
minha alma se encolhe
meu corpo se abre
bato com a cabeça no fim do mundo
meu pé o infinito ultrapassa
não caibo no que sinto
o que sinto é a razão
porque minto
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
MEIAS NOVAS
instruir os pés a seguir o corpo
instruir o corpo a seguir os pés
como se fossem diversos
instruir as palavras a seguir o corpo
instruir o corpo a seguir às palavras
como se fossem de versos
instruir o corpo a seguir os pés
como se fossem diversos
instruir as palavras a seguir o corpo
instruir o corpo a seguir às palavras
como se fossem de versos
DESGOSTOS
as coisas que o morto gostava
não morrem com o morto
as pessoas que o morto gostava
não morrem com o morto
o morto não mata a morte
mata o espaço onde existia
e as coisas e as pessoas
das quais gostava
nunca ocuparão esse espaço
não morrem com o morto
as pessoas que o morto gostava
não morrem com o morto
o morto não mata a morte
mata o espaço onde existia
e as coisas e as pessoas
das quais gostava
nunca ocuparão esse espaço
MURO DE GRITOS
fiz dos meus gritos muros
nada ultrapassava
dor ou medo
quem sabe o outro lado
sabe o segredo
nada ultrapassava
dor ou medo
quem sabe o outro lado
sabe o segredo
CALENDÁRIOS
as perdas de dezembro
não ultrapassam dezembro
assim como as perdas dos outros meses
não ultrapassam cada um dos meses
tudo dentro do seu tempo
e mesmo que não usássemos
esse calendário
a perda ocorreria noutros meses
noutros dias de outros anos
a perda independe do tempo
não adianta querer remendar o calendário
não existe cola que faça isso
pra sempre naquele dia
ficará aquele furo
não ultrapassam dezembro
assim como as perdas dos outros meses
não ultrapassam cada um dos meses
tudo dentro do seu tempo
e mesmo que não usássemos
esse calendário
a perda ocorreria noutros meses
noutros dias de outros anos
a perda independe do tempo
não adianta querer remendar o calendário
não existe cola que faça isso
pra sempre naquele dia
ficará aquele furo
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
FEBRE
a febre sobe de elevador
no meu corpo parece escada
o calor desaba um rio
em que eu pensava
ser a parte mais clara
no meu corpo parece escada
o calor desaba um rio
em que eu pensava
ser a parte mais clara
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
FEITO ÁGUA
estou mais preocupado
com o meu corpo
do que com as palavras
ele se dissolve em água
quem bebe o meu corpo
não me cospe
engole como se fosse palavra
quem me come
não me fala
deglute como se fosse água
com o meu corpo
do que com as palavras
ele se dissolve em água
quem bebe o meu corpo
não me cospe
engole como se fosse palavra
quem me come
não me fala
deglute como se fosse água
ENTRE O INTESTINO E A PÁGINA
a água retida
entre o intestino e a página
as palavras submersas
não pedem socorro
tornam-se peixes
com sorte tornam-se água
e permanecem retidas
entre o intestino e a página
entre o intestino e a página
as palavras submersas
não pedem socorro
tornam-se peixes
com sorte tornam-se água
e permanecem retidas
entre o intestino e a página
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
ALEGRIA
alguns motoristas de terno
ganham menos que alguns sem terno
artistas não ganham
a mesma coisa
uns morrem de tédio
outros sem remédio
uns morrem em palácios
outros na rua
alguns morrem de tristeza
os sem sorte morrem de velhice
o poeta não sabe por que escreve
mas sabe por que não apaga
o poeta não é triste
triste é quem encontra alegria na poesia
a poesia não me traz nenhuma alegria
eu sou alegre sem poesia
ganham menos que alguns sem terno
artistas não ganham
a mesma coisa
uns morrem de tédio
outros sem remédio
uns morrem em palácios
outros na rua
alguns morrem de tristeza
os sem sorte morrem de velhice
o poeta não sabe por que escreve
mas sabe por que não apaga
o poeta não é triste
triste é quem encontra alegria na poesia
a poesia não me traz nenhuma alegria
eu sou alegre sem poesia
MÚSICA
pensei em usar essa música num poema
mas não consegui representá-la
um poema é mais silêncio que palavras
mas não consegui representá-la
um poema é mais silêncio que palavras
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
PARECIDO COMIGO
sei que não vai ser necessário
arrastar meu próprio corpo até o abismo
o precipício mostrando-se mais parecido comigo do que eu
as digitais precisas combinando com as minhas
sou eu o abismo
sempre que me abro dessa maneira
os ventos arrastando os grãos
os vãos abertos são a minha respiração
o aumentativo de tudo é a solidão
arrastar meu próprio corpo até o abismo
o precipício mostrando-se mais parecido comigo do que eu
as digitais precisas combinando com as minhas
sou eu o abismo
sempre que me abro dessa maneira
os ventos arrastando os grãos
os vãos abertos são a minha respiração
o aumentativo de tudo é a solidão
DEJETO
dizem que a chuva muda tudo
não mudou minhas palavras
a água não traz palavras novas
tristeza agonia
meu corpo engolido pelo canal
desemboca na boca do sol
que se engasga com a minha
insignificância
não mudou minhas palavras
a água não traz palavras novas
tristeza agonia
meu corpo engolido pelo canal
desemboca na boca do sol
que se engasga com a minha
insignificância
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
PESO
todas as coisas
que você não sabe mais
o que significam
mas mesmo assim as utiliza
como um peso
sustentando o silêncio
que insiste em voar
que você não sabe mais
o que significam
mas mesmo assim as utiliza
como um peso
sustentando o silêncio
que insiste em voar
MATILHA
quando os cães vieram
eu não estava preparado
e os que estavam preparados
não sabiam que viriam os cães
preparavam-se para a colheita
e os cães vieram antes dos frutos
agora ancinhos e fardos
recolhem corpos
dos cães desfigurados
eu não estava preparado
e os que estavam preparados
não sabiam que viriam os cães
preparavam-se para a colheita
e os cães vieram antes dos frutos
agora ancinhos e fardos
recolhem corpos
dos cães desfigurados
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
ISSO ACUMULADO AO REDOR
a exemplo da ausência
os cabelos e as unhas
continuam crescendo após a morte
ninguém vai abrir o caixão
para aparar as unhas e os cabelos
nem vai aparar a ausência
que se acumula ao redor
formando novelos
os cabelos e as unhas
continuam crescendo após a morte
ninguém vai abrir o caixão
para aparar as unhas e os cabelos
nem vai aparar a ausência
que se acumula ao redor
formando novelos
ENGRENAGEM
uma roldana
não se pergunta
o que está fazendo
numa engrenagem
se ela for pensar
para tudo
então
embriaga-se de graxa
e continua o movimento
não se pergunta
o que está fazendo
numa engrenagem
se ela for pensar
para tudo
então
embriaga-se de graxa
e continua o movimento
ABRAÇOS
eu sei que os abraços
não são eternos
por isso nunca trago o meu corpo
isso que tocas
é apenas a sombra do meu sonho
também pedirei
que me esqueças
quando nascer minha cabeça
enquanto isso
movo precipícios
sob os oceanos
os navios não sabem
dos meus planos
não são eternos
por isso nunca trago o meu corpo
isso que tocas
é apenas a sombra do meu sonho
também pedirei
que me esqueças
quando nascer minha cabeça
enquanto isso
movo precipícios
sob os oceanos
os navios não sabem
dos meus planos
ASAS
é mais fácil falar da queda
quando não se tem asas
o céu se espreguiça
com mais calma
quando se tem o azul na alma
minha alma feita de penas
converteu em nuvens
minhas omoplatas
o chão que me pisa
de baixo pra cima
espreme o silêncio pendurado
sem rima
quando não se tem asas
o céu se espreguiça
com mais calma
quando se tem o azul na alma
minha alma feita de penas
converteu em nuvens
minhas omoplatas
o chão que me pisa
de baixo pra cima
espreme o silêncio pendurado
sem rima
terça-feira, 8 de novembro de 2011
AS PARTES DO MEU CORPO
minha parte suicidada
mesmo morta
nunca se acaba
acompanha a outra parte
também morta
sem alarde
e juntas formam esse corpo
que mesmo morto
ainda me cabe
mesmo morta
nunca se acaba
acompanha a outra parte
também morta
sem alarde
e juntas formam esse corpo
que mesmo morto
ainda me cabe
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
MELHORES DEPÓSITOS
não guardamos pessoas nos livros
guardamos em armários
calendários hospícios asilos
hospitais catacumbas
guardamos palavras nos livros
para mencionar a lembrança de alguém
usamos palavras
as pessoas incham quando morrem
depois explodem e fragmentam-se em ossos
palavras não incham só explodem
e os seus fragmentos não são de ossos
guardamos em armários
calendários hospícios asilos
hospitais catacumbas
guardamos palavras nos livros
para mencionar a lembrança de alguém
usamos palavras
as pessoas incham quando morrem
depois explodem e fragmentam-se em ossos
palavras não incham só explodem
e os seus fragmentos não são de ossos
RESPIRAÇÃO
estou cansado de respirar
aliás estou cansado do ar
esse ar assombroso que não me abandona
já reduzi os espaços
retirei os pulmões a narina
esse ar me circula
como se fosse minha sina
infla meus movimentos
infla minhas palavras
são de ar essas palavras
que parecem água
aliás estou cansado do ar
esse ar assombroso que não me abandona
já reduzi os espaços
retirei os pulmões a narina
esse ar me circula
como se fosse minha sina
infla meus movimentos
infla minhas palavras
são de ar essas palavras
que parecem água
PERDAS
o modo de perder
é mais relevante que a perda
perder verdadeiras posses
nunca perderei o amor
nunca perderei a dor
nem tenho essa rima
tenho uma agonia
parecida com a poesia
será difícil perdê-la
foi mais fácil obtê-la
aprender a morrer
é o melhor modo de
perder a poesia
é mais relevante que a perda
perder verdadeiras posses
nunca perderei o amor
nunca perderei a dor
nem tenho essa rima
tenho uma agonia
parecida com a poesia
será difícil perdê-la
foi mais fácil obtê-la
aprender a morrer
é o melhor modo de
perder a poesia
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
TODO SENTIMENTO
algumas coisas não se acertam nunca
nunca serei a pele de alguém
nunca serei minha pele
palavras suturam discursos
mas as cicatrizes não se apagam
o silêncio rompe os cortes fechados
melhor deixar assim
tudo aberto
todo mundo é igual por dentro
alguns não entendem os sentimentos
tudo é dor fique certo
nunca serei a pele de alguém
nunca serei minha pele
palavras suturam discursos
mas as cicatrizes não se apagam
o silêncio rompe os cortes fechados
melhor deixar assim
tudo aberto
todo mundo é igual por dentro
alguns não entendem os sentimentos
tudo é dor fique certo
PÁGINA SONORA
pontes e abismos
esses pequenos objetos
e suas alavancas
reentrâncias
e o modo de encaixar as palavras
se eu soubesse
não estaria aqui agora
tornando essa página sonora
esses pequenos objetos
e suas alavancas
reentrâncias
e o modo de encaixar as palavras
se eu soubesse
não estaria aqui agora
tornando essa página sonora
MANHÃ QUASE CALMA
mostrou-se tranqüilo
apesar da altura
os cabelos em desalinho
a gravata dando voltas no pescoço
o sapato direito quase caindo
o asfalto ainda molhado da chuva noturna
poucos automóveis ainda
poucos transeuntes
e apenas o seu corpo de encontro ao solo
o filete de sangue
interrompeu o caminho das formigas
e o corpo interrompeu a manhã
que parecia calma
até aquele momento
apesar da altura
os cabelos em desalinho
a gravata dando voltas no pescoço
o sapato direito quase caindo
o asfalto ainda molhado da chuva noturna
poucos automóveis ainda
poucos transeuntes
e apenas o seu corpo de encontro ao solo
o filete de sangue
interrompeu o caminho das formigas
e o corpo interrompeu a manhã
que parecia calma
até aquele momento
SONHANDO COM BOCAS
palavras pontiagudas
intragáveis
invadiram a minha boca
enquanto eu bocejava
eu queria um sono
agora tenho sonhos
sonho com uma latrina
onde eu possa
cuspir essas palavras
sonho com outra boca
parecida com a minha
e diferente nas palavras
intragáveis
invadiram a minha boca
enquanto eu bocejava
eu queria um sono
agora tenho sonhos
sonho com uma latrina
onde eu possa
cuspir essas palavras
sonho com outra boca
parecida com a minha
e diferente nas palavras
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
ESPETÁCULO
aos domingos
artistas cansam o público
a sensibilidade sempre corrói
a parte branca do sonho
os artistas descansam
onde as palavras dormem
artistas cansam o público
a sensibilidade sempre corrói
a parte branca do sonho
os artistas descansam
onde as palavras dormem
terça-feira, 1 de novembro de 2011
FINADOS
deixaram apenas o meu rosto do lado de fora
as flores cobrindo o restante do corpo
nem percebem o meu hálito
nos sopros que tenho guardado
para cada um dos talos
meus movimentos por dentro
despertam outros sentimentos
não sei se durmo
não sei se falo
acho melhor adormecer
até apodrecer
as flores cobrindo o restante do corpo
nem percebem o meu hálito
nos sopros que tenho guardado
para cada um dos talos
meus movimentos por dentro
despertam outros sentimentos
não sei se durmo
não sei se falo
acho melhor adormecer
até apodrecer
PLANANDO
quando a lucidez foi embora
eu estava no meio da rua
empinando pipa
subi pela linha até alcançá-la
ela fingiu não sentir
o peso do meu medo
permaneceu misturando
suas cores ao azul do céu
esquecemos da noite
do mundo pendurando lá fora
fiz um chapéu do escuro
nunca mais fomos embora
eu estava no meio da rua
empinando pipa
subi pela linha até alcançá-la
ela fingiu não sentir
o peso do meu medo
permaneceu misturando
suas cores ao azul do céu
esquecemos da noite
do mundo pendurando lá fora
fiz um chapéu do escuro
nunca mais fomos embora
Assinar:
Postagens (Atom)
FOLHAS SOLTAS
raramente grampeio as páginas deixo as folhas soltas espero o vento quem sabe palavras venham junto
-
minha baixa imunidade não me permite tocar as palavras esse meu silêncio pelo que me lembro antecipa meus ossos gostaria de ve...
-
para o amor não sei quantas pessoas para a dor mais ainda não sei contar para outras coisas mas sei que são muitas
-
a lua ao fundo antes da lua a árvore com seu vestido verde e sapatos escuros entre os cabelos da árvore a lua ao fundo ou a ...