o melhor poeta do mundo
nunca usou gravata
aliás usar é um verbo pouco usado por ele
sentir seria mais preciso
o poeta sente que não sente muito
e passa
o melhor poeta do mundo
acha que o mundo não se acaba
nem daqui a vinte minutos
nem na próxima parada
o melhor poeta do mundo
não se acha
nem se encaixa nesse mundo
nem se acaba
o melhor poeta do mundo
não lê poemas
nem lê cartas
lê a mão do mundo decepada
o melhor poeta do mundo
não sabe que é o melhor poeta do mundo
pensa que escreve o que percebe
pensa que percebe o que se pede
pensa que o mundo o percebe
transpira a vida após a febre
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
O AMOR NÃO DIZ
o amor não diz o que fazer
os fragmentos da razão
misturados aos fragmentos do teu corpo
não vão movimentar o vento
ficarão pendurados
se alcançarem as árvores
até que a morte
os transforme em frutos
os fragmentos da razão
misturados aos fragmentos do teu corpo
não vão movimentar o vento
ficarão pendurados
se alcançarem as árvores
até que a morte
os transforme em frutos
BREVE INTERRUPÇÃO
essas palavras
como uma pequena interrupção
nas artérias do silêncio
um breve aneurisma
na ilusão
de que é possível
interromper o silêncio
com palavras
como uma pequena interrupção
nas artérias do silêncio
um breve aneurisma
na ilusão
de que é possível
interromper o silêncio
com palavras
O QUE CARREGO AGORA
antigamente eu carregava
os sentimentos na sacola
não sei o que carrego agora
abandonei a sacola
antes que o tempo me pegasse
e me instalasse furos
ou me tornasse nulo
colhi o vento inacabado
varrendo tudo
que carrego agora
os sentimentos na sacola
não sei o que carrego agora
abandonei a sacola
antes que o tempo me pegasse
e me instalasse furos
ou me tornasse nulo
colhi o vento inacabado
varrendo tudo
que carrego agora
FESTA
então é preciso dançar
posicionar o corpo de maneira que
tudo se alimente
falar as coisas que não estão presas
prender o que ficou
entre a altura e a varanda
mostrar-se humano
esconder as asas sob o copo
falar o idioma
de quem ainda não aprendeu a falar
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
HOJE NÃO TEM POESIA
hoje não tem poesia
quem quiser que faça o seu corpo
quem quiser pise nas flores
quem quiser nem queira
hoje não tem poesia
as palavras fugiram
em desabalada correria
formaram esse pátio deitado
onde dorme a poesia
quem quiser que faça o seu corpo
quem quiser pise nas flores
quem quiser nem queira
hoje não tem poesia
as palavras fugiram
em desabalada correria
formaram esse pátio deitado
onde dorme a poesia
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
QUANDO O MEDO SORRI
o medo prende
o riso ao grito
o medo fixa
no local errado
na hora incerta
o medo grita
sem soltar sorrisos
o medo ri
ao se sentir preciso
o medo vem
em sentido contrário
ao que não tem
terça-feira, 27 de agosto de 2013
PALAVRAS EM SEGREDO
lembro do sopro
as palavras flutuavam
fora dos livros
sabiam do pior lugar
para se guardar
melhor permanecer em segredo
um palmo antes do medo
de se pronunciar
e das palavras soltas
fora dos livros
fora dos livros
das estantes suspensas
e os músculos curvados
diante do vazio
a lembrança exagerada
do fio de cabelo no sono
separando o olho da fala
as palavras flutuavam
fora dos livros
sabiam do pior lugar
para se guardar
melhor permanecer em segredo
um palmo antes do medo
de se pronunciar
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
A PLANTA E O CONCRETO
nada está comigo
a não ser o
espaço tecido
entre a planta e o concreto
já fui vitrine
quando eu possuía pescoço
e parte do mundo pendurado
mostrava os meus sonhos
em pequenos vidros ligados
a uma outra maneira de dizer
e que agora me foge
e leva consigo o espaço
a não ser o
espaço tecido
entre a planta e o concreto
já fui vitrine
quando eu possuía pescoço
e parte do mundo pendurado
mostrava os meus sonhos
em pequenos vidros ligados
a uma outra maneira de dizer
e que agora me foge
e leva consigo o espaço
AMARELO
as cores do tempo
meus dentes amarelos
num sorriso amarelo
numa foto amarela
pendurada em qualquer espaço
entre o todo e um pedaço
a foto guarda a cor
ou adquire
mas não guarda o pensamento
expele
não lembro no que eu estava pensando
no momento da foto
a foto me lembra o lugar
e o lugar nunca vai me lembrar
meus dentes amarelos
num sorriso amarelo
numa foto amarela
pendurada em qualquer espaço
entre o todo e um pedaço
a foto guarda a cor
ou adquire
mas não guarda o pensamento
expele
não lembro no que eu estava pensando
no momento da foto
a foto me lembra o lugar
e o lugar nunca vai me lembrar
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
DIANTE DA PALAVRA
comovido diante do abismo
parecia um abismo
era a palavra
comovido diante da palavra
como se estivesse
diante do abismo
atirou-se como se estivesse
contido numa arma
e a vida fosse o gatilho
atirou-se sobre a página
que não se abriu
diante do choque
misturou-se à pele
do espanto do outro
formou-se outro corpo
parecia um abismo
era a palavra
comovido diante da palavra
como se estivesse
diante do abismo
atirou-se como se estivesse
contido numa arma
e a vida fosse o gatilho
atirou-se sobre a página
que não se abriu
diante do choque
misturou-se à pele
do espanto do outro
formou-se outro corpo
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
NO QUE ESTOU CONTIDO
estranho
o vidro
do caixão
embaçado
mas não grito
permaneço
aflito
e me
encolho
entre as flores
imagino
o transtorno
desfazer tudo
renascer
no cartório
adiar
o velório
transpiro mais
que respiro
logo
tudo
ficará
escuro
preciso
me
contentar
com o que me
cabe
administrar
o ar
e
o
espaço
afinal
lá
fora
ou
aqui
dentro
signi
fica
o
mes
mo
mento
o vidro
do caixão
embaçado
mas não grito
permaneço
aflito
e me
encolho
entre as flores
imagino
o transtorno
desfazer tudo
renascer
no cartório
adiar
o velório
transpiro mais
que respiro
logo
tudo
ficará
escuro
preciso
me
contentar
com o que me
cabe
administrar
o ar
e
o
espaço
afinal
lá
fora
ou
aqui
dentro
signi
fica
o
mes
mo
mento
ESTRUME
quem destruiu o jardim
esqueceu de mim
não sou a melhor flor
a mais perfumada
nem a grama mais viscosa
não sou a erva daninha arrancada
sou o melhor estrume pisado
enquanto o jardim era extinto
mordi os pés do jardineiro
com meus gritos
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
SEGUNDA PESSOA
o suor do peixe
perdido no aquário
o suor da minha alma
perdido na entranha
minha alma nada
igual ao peixe
atravessa a superfície transparente
que nem sente
o suor da entranha
às vezes é lágrima
às vezes é palavra
perdido no aquário
o suor da minha alma
perdido na entranha
minha alma nada
igual ao peixe
fora d'água
atravessa a superfície transparente
que nem sente
o suor da entranha
às vezes é lágrima
às vezes é palavra
PRIMEIRA PESSOA
ele parecia um anjo
o casaco com dois rasgos no dorso
o espaço das asas que não nasceram
rezava em voz alta
da altura que alcançava durante o voo
quem ainda escutou sua voz
durante a oração
a entendeu calma triste última
a mancha do sangue ao redor do corpo
tem a forma que a sua alma
gostaria de ter
se tivesse descido junto com ele
ficou sentada no parapeito da cobertura
dragando a altura em que ele foi se meter
o casaco com dois rasgos no dorso
o espaço das asas que não nasceram
rezava em voz alta
da altura que alcançava durante o voo
quem ainda escutou sua voz
durante a oração
a entendeu calma triste última
a mancha do sangue ao redor do corpo
tem a forma que a sua alma
gostaria de ter
se tivesse descido junto com ele
ficou sentada no parapeito da cobertura
dragando a altura em que ele foi se meter
PALAVRAS QUE VI ESCORRENDO
eu as vi escorrendo
as palavras que estavam penduradas
talvez nas páginas
talvez no pensamento de alguém
eu as vi escorrendo
e o modo como se movimentavam
parecia intruso
algo fora do entendimento
ou tão claro que os olhos não alcançavam
eu as vi escorrendo
sem haver uma superfície sob
soltas como se a terra
as expelisse durante um pesadelo
ou o céu as sugasse
antes de enxergá-las
eu as vi escorrendo
e não sei como fazer
para trazê-las até vocês
as palavras que estavam penduradas
talvez nas páginas
talvez no pensamento de alguém
eu as vi escorrendo
e o modo como se movimentavam
parecia intruso
algo fora do entendimento
ou tão claro que os olhos não alcançavam
eu as vi escorrendo
sem haver uma superfície sob
soltas como se a terra
as expelisse durante um pesadelo
ou o céu as sugasse
antes de enxergá-las
eu as vi escorrendo
e não sei como fazer
para trazê-las até vocês
terça-feira, 20 de agosto de 2013
SERES DIFERENTES
teu sonho
de ser diferente
adormece sob o vão
teus costumes
formam um estranho volume
no chão
queres o que o tempo move
usando palavras como trilhos
porém ninguém se comove
tocas o teu corpo
ou teu corpo te alcança
algo restou entre ti e o sujeito
que carregas
mas não entendes o peso
teus pés deixam marcas
na superfície
de uma bolha de sabão
de ser diferente
adormece sob o vão
teus costumes
formam um estranho volume
no chão
queres o que o tempo move
usando palavras como trilhos
porém ninguém se comove
tocas o teu corpo
ou teu corpo te alcança
algo restou entre ti e o sujeito
que carregas
mas não entendes o peso
teus pés deixam marcas
na superfície
de uma bolha de sabão
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
VISITAÇÃO
estou morto
e o meu corpo
está enterrado
em cada momento
as pessoas me visitam
sem trazer flores
enquanto isso apodreço
em silêncio
e o meu corpo
está enterrado
em cada momento
as pessoas me visitam
sem trazer flores
enquanto isso apodreço
em silêncio
domingo, 18 de agosto de 2013
LADO
não sei
de qual lado do meu corpo
eu estou
se do lado de dentro
ou do lado de fora
quando me olho não me vejo
quando saio de mim
não me encontro
meu corpo
não precisa de mim
nem eu preciso de mim
sem o meu corpo
de qual lado do meu corpo
eu estou
se do lado de dentro
ou do lado de fora
quando me olho não me vejo
quando saio de mim
não me encontro
meu corpo
não precisa de mim
nem eu preciso de mim
sem o meu corpo
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
GRAVIDADE
tento caminhar
mais lento que o tempo
sempre perco
meu momento
tentando ser mais lento
o espaço dobra a minha pele
ao encontro do chão
meus ossos vão agarrar a terra
sem precisar das mãos
o tempo mantém
o corpo curvo
enquanto se espreguiça
mantenho a alma solta
enquanto me afogo
na areia movediça
mais lento que o tempo
sempre perco
meu momento
tentando ser mais lento
o espaço dobra a minha pele
ao encontro do chão
meus ossos vão agarrar a terra
sem precisar das mãos
o tempo mantém
o corpo curvo
enquanto se espreguiça
mantenho a alma solta
enquanto me afogo
na areia movediça
ANTES DE DORMIR
antes de dormir
confiro tudo
a cabeça e a caspa
o cérebro e a loucura
os olhos míopes a serem remelados
o nariz obstruído e a coriza
a boca guardando as cáries e a língua corrompida
a garganta não sei agora estou calado
no peito o coração taquicárdico
os pulmões que se movem com dificuldade
o fígado doente não dói
o câncer do pâncreas ainda não sei
o intestino procura liberar gases mas se fecha
meu pinto não pia
o saco num plástico
as coxas rotas
os joelhos guardando todas as dores
os pés apontando para a rua
nada além disso é o meu corpo
é um corpo de outro sem o osso
objetos sem sentido e sem perigo
transforma o meu vazio
tudo que consigo
antes de dormir
planejo um sonho
mas nunca dá certo
nem fecho os olhos
e já estou desperto
confiro tudo
a cabeça e a caspa
o cérebro e a loucura
os olhos míopes a serem remelados
o nariz obstruído e a coriza
a boca guardando as cáries e a língua corrompida
a garganta não sei agora estou calado
no peito o coração taquicárdico
os pulmões que se movem com dificuldade
o fígado doente não dói
o câncer do pâncreas ainda não sei
o intestino procura liberar gases mas se fecha
meu pinto não pia
o saco num plástico
as coxas rotas
os joelhos guardando todas as dores
os pés apontando para a rua
nada além disso é o meu corpo
é um corpo de outro sem o osso
objetos sem sentido e sem perigo
transforma o meu vazio
tudo que consigo
antes de dormir
planejo um sonho
mas nunca dá certo
nem fecho os olhos
e já estou desperto
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
TORRENCIAL
cair pesado
o corpo torrencial
furando a neve
provocando câimbras
nas costas da tarde
deixar-se ouvir
como se os gestos
fossem palavras
deixar-se ficar
inerte entre as breves
maneiras de calar
das mais leves
o rufar da poesia
tensionando o couro
da fala
o corpo torrencial
furando a neve
provocando câimbras
nas costas da tarde
deixar-se ouvir
como se os gestos
fossem palavras
deixar-se ficar
inerte entre as breves
maneiras de calar
das mais leves
o rufar da poesia
tensionando o couro
da fala
EGOÍSMOS
somos todos egoístas
quando estamos tristes
choramos em segredo
queremos que a nossa pele
fique mais calma
transfundimos nosso sangue
para algum lugar desconhecido
trocamos o coração e o pulmão
por qualquer outro objeto
criamos outro mundo
do qual não fazemos parte
sentamos ao seu lado
e esperamos com ansiedade
o seu fim
quando estamos tristes
choramos em segredo
queremos que a nossa pele
fique mais calma
transfundimos nosso sangue
para algum lugar desconhecido
trocamos o coração e o pulmão
por qualquer outro objeto
criamos outro mundo
do qual não fazemos parte
sentamos ao seu lado
e esperamos com ansiedade
o seu fim
CHUVA REPENTINA
um sol agudo
perde o rumo e desaba
entre as pedras
a chuva surge do nada
em seu auxilio
galinhas encolhidas
sob as mesas
esperam a chuva passar
de um lado para o outro
com o sol nas costas
seus pés afundam no chão
e em cada marca
o escuro da noite
vai se juntando
até formar outro dia
perde o rumo e desaba
entre as pedras
a chuva surge do nada
em seu auxilio
galinhas encolhidas
sob as mesas
esperam a chuva passar
de um lado para o outro
com o sol nas costas
seus pés afundam no chão
e em cada marca
o escuro da noite
vai se juntando
até formar outro dia
terça-feira, 13 de agosto de 2013
NO PRINCÍPIO
choro no princípio
mas ninguém sabe
onde começa
foi aqui foi ali
a lágrima não pensa
forma a cortina
que mantenho fechada
até formar a paisagem
que me enquadra
mas ninguém sabe
onde começa
foi aqui foi ali
a lágrima não pensa
forma a cortina
que mantenho fechada
até formar a paisagem
que me enquadra
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
LIRA DOS VINTE ANOS
quando eu tinha vinte anos
eu era triste e não sabia
meu sorriso completo
chegava antes de mim
eu parecia inquebrável
o mundo não tinha fim
meu sangue era música
meu medo era areia
eu errava no alvo
acertava o acaso
eu tinha o chão como escada
tinha o céu como chapéu
sabia exatamente
a quantidade de estrelas
e como perdê-las
sabia de muitas coisas
principalmente as que eu inventei
inventei bancar a alegria
só que essa moeda eu ainda não sei
MÃOS TRÊMULAS
as minhas mãos tremem
mas não solto
seguro com a segurança possível
minhas mãos lembram as colinas
quando tremeram
não conseguiram segurar as palavras
a ideia contida no vento
a árdua faca de nuvem
não largo o que carrego
apesar das mãos trêmulas
nem é pesado
um feixe de luzes
parecendo apagadas
enterro nas curvas
até surgirem as palavras
mas não solto
seguro com a segurança possível
minhas mãos lembram as colinas
quando tremeram
não conseguiram segurar as palavras
a ideia contida no vento
a árdua faca de nuvem
não largo o que carrego
apesar das mãos trêmulas
nem é pesado
um feixe de luzes
parecendo apagadas
enterro nas curvas
até surgirem as palavras
DIA DOS TIOS
meu tio me ensinou
a pescar com o sol
a escuridão abriu a boca
e engoliu tudo
meu tio não me ensinou
a tatear no escuro
e o anzol atravessou a mão
até atingir o osso nulo
no escuro sem o peixe
meu tio me ensinou
a pescar errado
hoje sei pescar usando
o escuro como isca
embora com os ossos incompletos
a luz vai fisgando
até turvar a minha vista
a pescar com o sol
a escuridão abriu a boca
e engoliu tudo
meu tio não me ensinou
a tatear no escuro
e o anzol atravessou a mão
até atingir o osso nulo
no escuro sem o peixe
meu tio me ensinou
a pescar errado
hoje sei pescar usando
o escuro como isca
embora com os ossos incompletos
a luz vai fisgando
até turvar a minha vista
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
LONGE DO CHÃO
a poesia me mantém
longe do chão
nem por isso
me imagino com asas
meu corpo suspenso
num voo provisório
não cruza o céu
está localizado
entre a cabeça
e o papel
longe do chão
nem por isso
me imagino com asas
meu corpo suspenso
num voo provisório
não cruza o céu
está localizado
entre a cabeça
e o papel
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
MARGARIDAS
trabalham demais
os olhos ao redor do azul
fios incontidos de sombras
carregadas pelo branco
das pétalas das margaridas
simples corpos sem vestes
cujos sexos exalam
o mesmo que falam
CABOS
quase sempre
um cabo invade
a manga da minha camisa
um cabo de aço
um cabo de panela
um cabo de escada
um cabo de polícia
a manga da minha camisa
invadida pelos cabos
quase sempre
e comigo por dentro
sou suspenso
e invado um espaço
que não penso
um cabo invade
a manga da minha camisa
um cabo de aço
um cabo de panela
um cabo de escada
um cabo de polícia
a manga da minha camisa
invadida pelos cabos
quase sempre
e comigo por dentro
sou suspenso
e invado um espaço
que não penso
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
VERTICAL
não importa
para onde você vá
qual o caminho
você escolhe para fugir
para onde suas pernas
vão te levar
não importa
no final
teu corpo horizontal
e o teu pé vertical
formarão um estranho desenho
outras pernas
vão te carregar
para um lugar
onde você nunca desejou chegar
se tiver sorte
os pés estarão cobertos
se tiver sorte
os pés estarão fixos ao corpo
se tiver sorte
chamarão isso de morte
para onde você vá
qual o caminho
você escolhe para fugir
para onde suas pernas
vão te levar
não importa
no final
teu corpo horizontal
e o teu pé vertical
formarão um estranho desenho
outras pernas
vão te carregar
para um lugar
onde você nunca desejou chegar
se tiver sorte
os pés estarão cobertos
se tiver sorte
os pés estarão fixos ao corpo
se tiver sorte
chamarão isso de morte
ENTRE AS NUVENS
enregelado entre as brechas das nuvens
meu casaco despelado
minha queda aos poucos
primeiro o olhar depois o susto
por último algo parecido com o corpo
e a alma esticada cobrindo o céu
sentindo cócegas ao ser observada
meu casaco despelado
minha queda aos poucos
primeiro o olhar depois o susto
por último algo parecido com o corpo
e a alma esticada cobrindo o céu
sentindo cócegas ao ser observada
terça-feira, 6 de agosto de 2013
COISAS PARA SE FAZER ANTES DO FIM
não posso fazer muitas coisas
pouquíssimas coisas posso fazer
não sei o que fazer
com este poema
mas antes do final
descobrirei o que fazer
pouquíssimas coisas posso fazer
não sei o que fazer
com este poema
mas antes do final
descobrirei o que fazer
CASA ABANDONADA
o poema
é a casa abandonada
pelo poeta
a palavra
aparente mobília
o silêncio
aparente alicerce
o poema
erguido sozinho
no meio da página
ausente de vila
ausente de rua
a casa abandonada
pelo poeta
espera que alguém
a invada
e imagine
ser sua
é a casa abandonada
pelo poeta
a palavra
aparente mobília
o silêncio
aparente alicerce
o poema
erguido sozinho
no meio da página
ausente de vila
ausente de rua
a casa abandonada
pelo poeta
espera que alguém
a invada
e imagine
ser sua
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
ENCAIXOTADO
irremediável
o olho abre
e o mundo permanece
imóvel à sua frente
com a caixa aberta
de guardar as horas
e outra caixa
onde você se encaixa
não agora
mas vai saber na hora
em que o mundo
for embora
e só ficar a caixa
o olho abre
e o mundo permanece
imóvel à sua frente
com a caixa aberta
de guardar as horas
e outra caixa
onde você se encaixa
não agora
mas vai saber na hora
em que o mundo
for embora
e só ficar a caixa
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
CRAVO DAS MOSCAS
o cravo das moscas
mora no anteparo
entre o prego e a praga
entre o ouro e a prata
sem a pele um valor
com a pele bolor
o cravo das moscas
enfeita pela metade
perfuma sem vontade
não murcha de verdade
o cravo das moscas
dorme onde invade
seu sono é de marte
seu sonho é de morte
LUGARES
I
lugares onde nunca
imaginou estar
no meio do poema
por exemplo
sua presença
e depois o silêncio
para sempre
II
no meio da chuva
em dezembro
flor que se passa
por gente e
caminha
pétala colada
ao corpo
III
entre dois blocos
de gelo
uma chama equivocada
ascende aos céus
em novelos
amarra a natureza
aos abismos
lugares onde nunca
imaginou estar
no meio do poema
por exemplo
sua presença
e depois o silêncio
para sempre
II
no meio da chuva
em dezembro
flor que se passa
por gente e
caminha
pétala colada
ao corpo
III
entre dois blocos
de gelo
uma chama equivocada
ascende aos céus
em novelos
amarra a natureza
aos abismos
CANTARES E FINGIMENTO
finjo ser
um entendedor de poesia
e vou preenchendo o dia
com palavras
passarinho não entende de música
e vai preenchendo o dia
com seu canto
é da natureza do passarinho cantar
é da minha natureza fingir
um entendedor de poesia
e vou preenchendo o dia
com palavras
passarinho não entende de música
e vai preenchendo o dia
com seu canto
é da natureza do passarinho cantar
é da minha natureza fingir
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
COMOVENTE
sob as flores
não me comovo
nem me movo
olho
como vendo
o que é visto
não me comovo
diante das flores
retiro o necessário
a palavra sem cor
sem perfume
a palavra
que não me comove
não me comovo
nem me movo
olho
como vendo
o que é visto
não me comovo
diante das flores
retiro o necessário
a palavra sem cor
sem perfume
a palavra
que não me comove
DOR
vai doer
não há escapatória
deixe a dor inundar
por dentro
até transbordar
assim você
ficará por dentro da dor
e começará a encher
até transbordar
não há escapatória
deixe a dor inundar
por dentro
até transbordar
assim você
ficará por dentro da dor
e começará a encher
até transbordar
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LUNAR
a lua ao fundo antes da lua a árvore com seu vestido verde e sapatos escuros entre os cabelos da árvore a lua ao fundo ou a ...
-
minha baixa imunidade não me permite tocar as palavras esse meu silêncio pelo que me lembro antecipa meus ossos gostaria de ve...
-
todo mundo dói no meu sexo labirinto sem segredos todo sexo dói no meu mundo
-
a vida corre mais rápida que nós precisamos encontrar a velocidade da flor e ficar