sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

TÚNEL SEM LUZ

o tempo se aproveita 
de mim e me dobra
pela metade mas duplo
arranho a garganta
de quem me engole
debalde diante do ácido
que me espera
ao final do túnel
sem luz


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

FORA DOS TRILHOS



quando lembrei dos meus olhos
tudo já havia passado
desci numa estação que desconhecia trens
senti o peso do tempo sobre os meus ossos
espalhados sobre os trilhos
minha pele meus nervos meus músculos
caíam dos sonhos do outono
sem estardalhaço
e sem saber como voltar


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

QUE NÃO SE DESMANCHA


o tempo conta gotas
de um suor que não vem
o sal retido por dentro
conserva essa dor
que derrete tudo
sem desmanchar


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

CASA DE PELE


minha casa de pele
não permite passagens
morar é para sempre ou passado
por dentro do sangue enervado
por dentro do músculo enraizado
movimento limitado ao pensamento
que vai até onde a casa pede
um lugar sem presente
sem alicerce para os dentes
construir sorrisos disfarçados
ou morder sem o apetite adequado
minha casa de pele
não tem cor não tem porta nem janelas
vai ter que me sangrar
quem quiser entrar por ela

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

AZUL REDONDO



o dia ameno
nos leva a acreditar
que nunca vamos parar de respirar
o azul do céu sem nuvens
lembra o mar sem espuma
fora do alcance do olho
nossos sonhos flutuam
como peixes
que nunca vamos pescar

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

NUNCA PERGUNTEI PELOS SEUS OSSOS

eu nunca perguntei
como vão seus ossos
eu olhava para a sua carne
como se fosse a alma
eu não enxergava
mas compreendia
a necessidade de alguns reparos
porém os ossos
esses estavam ali
como estavam as árvores
que nos sustentavam
colhíamos frutos
parecidos com sorrisos
embora nunca estivessem maduros
e comíamos lembrando da sede
que embebedou nossa fome
pelos seus ossos
eu nunca perguntei
talvez por isso me abstenha
de recolhê-los
ou moê-los e plantá-los
no canto do muro
que retém o passado
na esperança
que o esqueleto da memória
nos converta em história


DEPOIS QUE MORREM

  sei para onde vão as mães depois que morrem a saudade forma um túnel e a luz que vem em sentido contrário as transformam em cinz...