o amor
é uma forma unitária
querer multiplicá-lo
é querer torná-los
um
segunda-feira, 30 de abril de 2012
OS IDIOMAS DA MINHA AVÓ
quando a minha avó
conversava com as plantas e as vacas
ainda não sabia
o idioma dos filhos
quando a minha avó
aprendeu o idioma dos filhos
e conversava com o pavor e as lágrimas
ainda não sabia
o idioma dos netos
quando a minha avó
conversava com os netos
já sabia o idioma do tempo e da sorte
e pensava que não havia
o idioma da morte
conversava com as plantas e as vacas
ainda não sabia
o idioma dos filhos
quando a minha avó
aprendeu o idioma dos filhos
e conversava com o pavor e as lágrimas
ainda não sabia
o idioma dos netos
quando a minha avó
conversava com os netos
já sabia o idioma do tempo e da sorte
e pensava que não havia
o idioma da morte
quinta-feira, 26 de abril de 2012
VISITANDO MAMÃE NO HOSPÍCIO
não tirei sua razão
deixei exatamente
onde nunca deveria estar
tentei me depositar
entre as maçãs
e a sua paisagem imaginária
fiquei pendurado para sempre
em seu olhar
deixei exatamente
onde nunca deveria estar
tentei me depositar
entre as maçãs
e a sua paisagem imaginária
fiquei pendurado para sempre
em seu olhar
quarta-feira, 25 de abril de 2012
DECÚBITO DORSAL
entendo o grito das formigas
tenho minha cabeça rente ao solo
minha boca o formigueiro
entendo o sabor das formigas
o zíper da minha boca destruído
meu paladar desarmado
entendo os passos das formigas
meu corpo seu caminho
tenho minha cabeça rente ao solo
minha boca o formigueiro
entendo o sabor das formigas
o zíper da minha boca destruído
meu paladar desarmado
entendo os passos das formigas
meu corpo seu caminho
GLÓBULOS
liberto meus glóbulos brancos
e os vermelhos
cortando a minha face no espelho
uso a lâmina d’água
da esquerda para a direita
do corte emanam mágoas
este lado que me aceita
entre a parede e a porta
o único espaço que me conforta
mas não suficientes
para os meus glóbulos brancos
nem os vermelhos
eles atravessam o espelho
cruzam as paredes do banheiro
e enfeitam um céu sem cor
nem brilho
e os vermelhos
cortando a minha face no espelho
uso a lâmina d’água
da esquerda para a direita
do corte emanam mágoas
este lado que me aceita
entre a parede e a porta
o único espaço que me conforta
mas não suficientes
para os meus glóbulos brancos
nem os vermelhos
eles atravessam o espelho
cruzam as paredes do banheiro
e enfeitam um céu sem cor
nem brilho
terça-feira, 24 de abril de 2012
CAL
todos bebem a minha cal
menos as paredes
todos querem o meu caos
menos a minha sede
onde termina o tronco
as vezes é a raiz
outras vezes é a copa
onde começa o tronco
ninguém sabe
muitas vezes uma poda
faz a copa parecer raiz
muitas vezes só um sopro
faz uma floresta infeliz
menos as paredes
todos querem o meu caos
menos a minha sede
onde termina o tronco
as vezes é a raiz
outras vezes é a copa
onde começa o tronco
ninguém sabe
muitas vezes uma poda
faz a copa parecer raiz
muitas vezes só um sopro
faz uma floresta infeliz
ALGUÉM NO MEU LUGAR
todas essas pessoas
que andam pelas minhas costas
sem saber por onde estão pisando
e pensam que caminham sobre a pele
mesmo quando ferem
todas essas pessoas
que me ultrapassam
e repousam o ventre antes
que eu nasça
entre todas essas pessoas
eu me incluo
e me deixo levar
enquanto alguém no meu lugar
pensa que a vida é boa
que andam pelas minhas costas
sem saber por onde estão pisando
e pensam que caminham sobre a pele
mesmo quando ferem
todas essas pessoas
que me ultrapassam
e repousam o ventre antes
que eu nasça
entre todas essas pessoas
eu me incluo
e me deixo levar
enquanto alguém no meu lugar
pensa que a vida é boa
sexta-feira, 20 de abril de 2012
ABERTURAS
acho que o meu sapato
está abrindo na frente
sinto um vento forte
no dedão do pé
acho que a minha cabeça
também está aberta
sinto um vento no cérebro
talvez por este motivo
eu esteja escrevendo isso
as flores sentem o vento
abrindo os seus botões
se é que o vento sabe
o que é uma flor
o poema sabe
quando a página
começa a abri-lo
se é que se pode
chamar isso de um poema
está abrindo na frente
sinto um vento forte
no dedão do pé
acho que a minha cabeça
também está aberta
sinto um vento no cérebro
talvez por este motivo
eu esteja escrevendo isso
as flores sentem o vento
abrindo os seus botões
se é que o vento sabe
o que é uma flor
o poema sabe
quando a página
começa a abri-lo
se é que se pode
chamar isso de um poema
quinta-feira, 19 de abril de 2012
A LUZ DO CEGO
enxergar não dá
sentido ao mundo
mesmo sem enxergar
o cego anda em linha reta
e o mundo não coroa o seu olfato
nem dá por perdida a sua meta
o tato abate o que é sentido
e o que se finge não tem papo
e o mundo ao redor do cego
e o mundo que ainda pensa
ser o centro
não entende o quanto é claro
o que é por dentro
sentido ao mundo
mesmo sem enxergar
o cego anda em linha reta
e o mundo não coroa o seu olfato
nem dá por perdida a sua meta
o tato abate o que é sentido
e o que se finge não tem papo
e o mundo ao redor do cego
e o mundo que ainda pensa
ser o centro
não entende o quanto é claro
o que é por dentro
quarta-feira, 18 de abril de 2012
CAMINHAR É SONHAR
onde deveria ser uma escada
mostrou-se possível uma alavanca
e a paisagem estragada
entre o primeiro passo e o último
acompanhou o movimento
como se o corpo e o momento
ocupassem o mesmo espaço
quem se mostra aos pedaços
sabe que o caminho é sonho
de uma cabeça esmagada
mostrou-se possível uma alavanca
e a paisagem estragada
entre o primeiro passo e o último
acompanhou o movimento
como se o corpo e o momento
ocupassem o mesmo espaço
quem se mostra aos pedaços
sabe que o caminho é sonho
de uma cabeça esmagada
EVIDÊNCIA HUMANA
alguns acreditam
que a evidência humana no poema
é a palavra
eu discordo
a evidência humana no poema
é o silêncio
e a maneira como ele se locomove
entre uma palavra e outra
que a evidência humana no poema
é a palavra
eu discordo
a evidência humana no poema
é o silêncio
e a maneira como ele se locomove
entre uma palavra e outra
terça-feira, 17 de abril de 2012
CHÃO ANÔNIMO
da superfície o que resta
demonstrações de delírios
e seus desencantos
paredes parecidas navegadas
leituras da carne em braile
olhar-me e confirmar inexeqüível
olhar-me sem encontrar nos meus olhos
a perda do plano
confiar no escuro
como os olhos confiam
no amontoado de vãos
confiar nas palavras
como os pés confiam
no anonimato do chão
demonstrações de delírios
e seus desencantos
paredes parecidas navegadas
leituras da carne em braile
olhar-me e confirmar inexeqüível
olhar-me sem encontrar nos meus olhos
a perda do plano
confiar no escuro
como os olhos confiam
no amontoado de vãos
confiar nas palavras
como os pés confiam
no anonimato do chão
segunda-feira, 16 de abril de 2012
FALHAS NO PAPEL
eu sempre quis
escrever abril
sem utilizar lápis ou caneta
consegui escrever abril
usando uma pena
que arranquei das asas de um anjo
dizem que os anjos não existem
a poesia também não existe
falhas no papel
produzem essas palavras
escrever abril
sem utilizar lápis ou caneta
consegui escrever abril
usando uma pena
que arranquei das asas de um anjo
dizem que os anjos não existem
a poesia também não existe
falhas no papel
produzem essas palavras
sexta-feira, 13 de abril de 2012
RITOS ARTIFICIAIS
entre os buracos
abertos entre
o olhar e a flor
interditaram a dor
instalando plásticos
abertos entre
o olhar e a flor
interditaram a dor
instalando plásticos
COMO FABRICAR DENTES
nem sempre quem sorri
entende a felicidade
confundem gestos e coisas
meus dentes postiços são de brim
lembram calças desvestidas
caminho por onde pereço
começo por onde mereço
termino com essa boca
parecida com a minha
o sorriso costurado a cru
a felicidade sempre
provocando esse choque
anafilático
entende a felicidade
confundem gestos e coisas
meus dentes postiços são de brim
lembram calças desvestidas
caminho por onde pereço
começo por onde mereço
termino com essa boca
parecida com a minha
o sorriso costurado a cru
a felicidade sempre
provocando esse choque
anafilático
ODE À NUVEM
o sol bebeu
todas as nuvens
o homem aceso
mostrou-se preocupado com o sim
concordar nesse momento era frio
o sol enfiado nos cabelos
os raios cobrindo os olhos
o homem diz sim à sombra
procura as nuvens sob ela
todas as nuvens
o homem aceso
mostrou-se preocupado com o sim
concordar nesse momento era frio
o sol enfiado nos cabelos
os raios cobrindo os olhos
o homem diz sim à sombra
procura as nuvens sob ela
quinta-feira, 12 de abril de 2012
ENGAVETADO
permaneci imóvel
esperando a respiração
voltar ao normal
mas a respiração
nunca mais voltou
a gaveta era fria
mas eu não senti
a gaveta era escura
mas eu não vi
esperando a respiração
voltar ao normal
mas a respiração
nunca mais voltou
a gaveta era fria
mas eu não senti
a gaveta era escura
mas eu não vi
quarta-feira, 11 de abril de 2012
ROSAS BORDADAS
o mundo ainda é o melhor lugar
pra se morar sozinho
espalhe tua pele sobre ele
e mostre as rosas
bordadas nos teus nervos
pra se morar sozinho
espalhe tua pele sobre ele
e mostre as rosas
bordadas nos teus nervos
MOSCAS
todas essas moscas
que brotam dos teus olhos
e se espalham pelo teu tronco
e os teus membros
tentam esconder
essa presença desagradável
das pessoas na tua vida
como se fossem feridas
que nunca cicatrizam
que brotam dos teus olhos
e se espalham pelo teu tronco
e os teus membros
tentam esconder
essa presença desagradável
das pessoas na tua vida
como se fossem feridas
que nunca cicatrizam
terça-feira, 10 de abril de 2012
MONTAGEM
perdi a manhã
montando o tempo
sobraram peças
que utilizo
pra montar
outros momentos
onde haja
o espaço
para o tempo
necessário
LINHA DE CHEGADA
não tenho vocação
para o suicídio
confio na vocação
dos assassinos
cruzo a linha de chegada
antes da hora
e espero os tiros
para o suicídio
confio na vocação
dos assassinos
cruzo a linha de chegada
antes da hora
e espero os tiros
segunda-feira, 9 de abril de 2012
ATENTO
o poeta deve permanecer
sempre atento
e ao mesmo tempo distraído
atento à claridade usando óculos escuros
atento à escuridão de olhos bem abertos
atento ao vácuo
e ao corpo que cai
de encontro ao solo
atento ao solo
sem o corpo
que flutua distraído
pelo espaço conhecido
sempre atento
e ao mesmo tempo distraído
atento à claridade usando óculos escuros
atento à escuridão de olhos bem abertos
atento ao vácuo
e ao corpo que cai
de encontro ao solo
atento ao solo
sem o corpo
que flutua distraído
pelo espaço conhecido
sexta-feira, 6 de abril de 2012
NADA DE PREOCUPAÇÕES
não se preocupe
nada vai mudar
a vida sempre nos surpreendendo
a morte sempre nos interrompendo
enquanto isso
leia algum poema
ou observe alguma estrela
ou não faça nada disso
não se preocupe
amanhã ou depois
o poema e a estrela
serão sempre os mesmos
como também serão os mesmos
os teus medos
nada vai mudar
a vida sempre nos surpreendendo
a morte sempre nos interrompendo
enquanto isso
leia algum poema
ou observe alguma estrela
ou não faça nada disso
não se preocupe
amanhã ou depois
o poema e a estrela
serão sempre os mesmos
como também serão os mesmos
os teus medos
quarta-feira, 4 de abril de 2012
MEDIDAS PREVENTIVAS
enterre o seu inimigo no quintal
a morte não garante o fim do mal
regue o túmulo com urina e escarro
não humilhe as flores reduzindo-as a um vaso
misture o ódio ao cimento armado
ao lado do buraco abra outro buraco
e enterre tudo que lembre o inimigo
deixe apenas o ódio do lado de fora
mesmo que não queira usar
o tempo vai te ensinar
porque o inimigo morto
não altera o sistema
mesmo inerte ele trará algum problema
por exemplo nunca deixe
ele ler esse poema
a morte não garante o fim do mal
regue o túmulo com urina e escarro
não humilhe as flores reduzindo-as a um vaso
misture o ódio ao cimento armado
ao lado do buraco abra outro buraco
e enterre tudo que lembre o inimigo
deixe apenas o ódio do lado de fora
mesmo que não queira usar
o tempo vai te ensinar
porque o inimigo morto
não altera o sistema
mesmo inerte ele trará algum problema
por exemplo nunca deixe
ele ler esse poema
terça-feira, 3 de abril de 2012
ESPERANDO A CHUVA
mesmo acordado
continue sonhando
manter a realidade nublada
nos prepara para a chuva
continue sonhando
manter a realidade nublada
nos prepara para a chuva
PINCELADAS
o mar cinzento
entre o céu azul
e a areia clara
os peixes pincelam
o mar por dentro
eu pincelo a poesia
por dentro
entre o céu azul
e a areia clara
os peixes pincelam
o mar por dentro
eu pincelo a poesia
por dentro
segunda-feira, 2 de abril de 2012
A POESIA NÃO PRECISA DE PALAVRAS
as palavras não me procuram
a poesia me encontra
e transformá-la em palavras
é torná-la nula
a poesia me encontra
e transformá-la em palavras
é torná-la nula
A POESIA FÁCIL
minha poesia é fácil
dá pra qualquer um
se quiser um orifício
eu faço
se quiser um falo
empalo
para quem tem palavra
tudo fica mais fácil
tudo no silêncio
fica mais difícil
espalho meu
corpo esplêndido
e o empalho
em silêncio
dá pra qualquer um
se quiser um orifício
eu faço
se quiser um falo
empalo
para quem tem palavra
tudo fica mais fácil
tudo no silêncio
fica mais difícil
espalho meu
corpo esplêndido
e o empalho
em silêncio
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