segunda-feira, 29 de julho de 2019

ALMA VELHA


minha alma velha
carrega o meu corpo
em direção ao abandono
minha alma velha
não tem forças
se ampara no mundo
mais velho do que ela
carregar o meu corpo é um engano
há muito foi abandonado
antes que o mundo
houvesse passado
por cima com um pano
e a alma velha
mais morta que cega
vaga pensando que me carrega


segunda-feira, 15 de julho de 2019

PAREDE DO SILÊNCIO


se atravesso a parede do silêncio
sem deixar a sombra
pensam que estou do outro lado
enquanto pisam sobre o que foi deixado
nunca vão entender as linhas do sonho
mesmo apagado sob os olhos
que insistem em permanecer fechados
o que deixo são palavras
porém de pouca utilidade
se ainda fossem entendidas
talvez tivessem uma sobrevida
minhas ações não correspondem
ao meu lugar no mundo
gostaria de interromper
minha maneira de dizer
diante dessa impossibilidade
apenas atravesso a parede do silêncio
fazendo todo esse barulho
espalho os fragmentos dos sonhos
não todos
mas os que possibilitem
reconstituir um despertar menos claro


domingo, 14 de julho de 2019

NOVO SUBMERSO


o novo submerso parte
em duas partes
a parte externa se repete
indefinidamente
a parte interna se reflete
na parte externa
indefinidamente
o novo submerso parte
sem destino e sem esperança
aprende a flutuar
voltando a ser criança
ergue a sombra sobre os ombros
e a espalha no espaço
como uma pipa carregada de lembranças


quinta-feira, 11 de julho de 2019

CINZA


embora alto
o cinza do céu
não sonha
pareço estar perto da água
quando chove
em minha entranha
pareço cinza
embora baixo
escorro de maneira estranha
cavo no céu
caminhos que não cabem
em sua sanha


quarta-feira, 10 de julho de 2019

NA IMPOSSIBILIDADE DE BEIJAR MINHA CABEÇA


não consigo beijar minha cabeça
talvez isso justifique meu humor espalhado
em fatias pelos muros
a cada esquina preciso explicar uma piada
como se fosse um poema
ou explicar um poema
como se fosse uma piada
e a cada explicação a minha cabeça
que nem cheira
necessita que por mim seja cheirada
e eu que nem consigo beijá-la
guardo o meu beijo entre as palavras
e pedes uma explicação para o poema
e eu explico como se fosse uma piada

sábado, 6 de julho de 2019

MAIS SILÊNCIO QUE PALAVRAS


Para G.Vieira

respeito mais o silêncio
do que as palavras
a forma do silêncio me afaga
e me molda ao que desconheço
me acomoda ao que menos pareço
as palavras que não mereço
e que por vezes me abraçam
nunca ultrapassam
isso que escrevo

sexta-feira, 5 de julho de 2019

RECOLHENDO PEDRAS


comecei a recolher as pedras
como se fosse morrer
primeiro as maiores depois as menores
como se existisse
a possibilidade da morte
enxergar as pedras menores
torna as maiores que a morte
como se consistisse
considerar o tamanho
da morte se ela existisse
recolheria as pedras
como pudesse ocorrer
os tamanhos diversos da morte


DEPOIS QUE MORREM

  sei para onde vão as mães depois que morrem a saudade forma um túnel e a luz que vem em sentido contrário as transformam em cinz...