terça-feira, 31 de janeiro de 2017

FICAR VIVO

a moda agora é ficar vivo
portanto se morrer
não venha me dizer
vai ficar constrangido
ao se ver ultrapassado
morra e fique calado

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

DURANTE A LIMPEZA DOS ÓCULOS



de um momento para o outro
parei para observar os meus óculos
descobri sujeiras em lugares
onde eu nunca havia imaginado
no encontro entre a haste e a charneira
por exemplo
entre o final da ponte e a plaqueta
fiquei imaginando
se eu tirasse a alma para procurar sujeiras
eu veria algumas sem dúvida
mas não saberia dizer em que parte

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

REPARTIÇÃO

computadores rolavam pelos corredores
escorriam pelas escadas
guarda-chuvas trocados por almas
também desabavam
enquanto isso
as pessoas estocadas aguardavam a chamada
em ordem crescente
pelo número do cpf
acontecimentos parecem corpos
parecem gente


segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

MAIS QUE SOFRO

morro mais do que sofro
sofrer goteja
sobre a pele sem poro
digital sem dedos
formando o medo
morrer me marca
lágrima encanada
na parede enterrada
ausência do mundo
esquecido no fundo
morrer me mata


terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O AMOR É UMA MUCOSA

o amor é uma mucosa
pendurada num aquário sem paredes
sonho repetido na insônia
lâmina que parte
sem levar bagagem


domingo, 8 de janeiro de 2017

MORTO DESEJO

não sinto o meu vestido
sinto olhares me despindo
todo olhar remete à sede
seco a minha virilha na parede
não sei onde ancorar o meu corpo
navego em meu desejo morto


sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

ALMA ESTICADA

mesmo que você estique a alma até aqui
um lugar que parece existir
você não vai conseguir
mostrar que a alma é algo que se possa esticar
e nesse lugar que ninguém vai enxergar
porque não parece existir
sua alma esticada vai mostrar
que você nunca esteve aqui



LÁGRIMA

a lágrima já é curva
para circundá-la
não precisamos de esquinas
basta a contratura da angústia
ou uma alegria que se trinca


quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

PEQUENOS INCÊNDIOS

dentro do mar
dentro do rio
dentro do olhar
nada acalma
tudo é água
a música que toca
sem ninguém ouvir
vai formando
pequenos incêndios
na memória
não há como apagar
com o olhar
não há como guardar
dentro do rio
não há como embrulhar
dentro do mar


IMUNIDADE

minha baixa imunidade não me permite tocar as palavras esse meu silêncio pelo que me lembro antecipa meus ossos   gostaria de ve...