Agrário
mudas de galinha
não brotam sem ovos
das palavras
os poemas
são os ossos
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
CANÇÃO DA PAISAGEM SEM LETRAS
pensei em flores
no ar sem sombras
nas coisas que as palavras modificam
em tornar o avesso desnecessário
nos toques sem tato
pensei em me mostrar como
sempre deveria
ser ao vê-la
sinto poemas
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Telhados recifenses
as copas das árvores se encontram
e formam o caminho
por onde automóveis
passam ensombrados
onde não há árvore
o sol assume outras formas de sombra
e descaminha os passos
onde não há sol
a chuva assoma os telhados
que encolhem o calor e
o espalha em calhas
onde não há chuva
flores de argila
carregam-se de mãos
que possam regá-las
as copas das árvores se encontram
e formam o caminho
por onde automóveis
passam ensombrados
onde não há árvore
o sol assume outras formas de sombra
e descaminha os passos
onde não há sol
a chuva assoma os telhados
que encolhem o calor e
o espalha em calhas
onde não há chuva
flores de argila
carregam-se de mãos
que possam regá-las
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
ENTREVISTA
- E o poema, como surge?
- Lapidar o silêncio até surgir essa forma.
- E os sons do poema?
- Som de poema é invencionice barulho de luz nos olhos do leitor.
- E o leitor, mero passivo?
- Do poema é pele e capa e alimento sem o qual falece à míngua frio e fome.
- E a palavra final?
- Ler até o pó virar sangue.
- Lapidar o silêncio até surgir essa forma.
- E os sons do poema?
- Som de poema é invencionice barulho de luz nos olhos do leitor.
- E o leitor, mero passivo?
- Do poema é pele e capa e alimento sem o qual falece à míngua frio e fome.
- E a palavra final?
- Ler até o pó virar sangue.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
ANAMNESE
peço ao ausentes
que me despeço
confesso-me demente
ao meu corpo
verto delírios
sintomas pedaços
disfarço a morte
engolindo o fim
que me despeço
confesso-me demente
ao meu corpo
verto delírios
sintomas pedaços
disfarço a morte
engolindo o fim
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
DELIBERAÇÕES
primeira
deliberei não pensar
sem paredes na cabeça
como represar os sentimentos?
puxei os cabelos da paisagem
e contei um por um
eis a maneira correta
de amestrar a saudade
segunda
deliberei não sentir
sem paredes no sentimento
como libertar o pensamento?
a saudade puxa os meus cabelos
mas a cabeça não acompanha
eis a maneira correta
de abortar o sentimento
primeira
deliberei não pensar
sem paredes na cabeça
como represar os sentimentos?
puxei os cabelos da paisagem
e contei um por um
eis a maneira correta
de amestrar a saudade
segunda
deliberei não sentir
sem paredes no sentimento
como libertar o pensamento?
a saudade puxa os meus cabelos
mas a cabeça não acompanha
eis a maneira correta
de abortar o sentimento
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Disposições transitórias
quem ama com o coração
esquece do corpo
e o sangue não tem
pra onde correr
quem ama com a alma
esquece do corpo e
sem corpo a alma
descansa em paz amém
quem ama com o corpo
o coração aproveita
e foge pela janela da alma
quem ama com o coração
com a alma e com o corpo
esquece de si mesmo e o amor
pessoa de direito público
toma posse e revoga
todas as emoções em contrário
quem ama com o coração
esquece do corpo
e o sangue não tem
pra onde correr
quem ama com a alma
esquece do corpo e
sem corpo a alma
descansa em paz amém
quem ama com o corpo
o coração aproveita
e foge pela janela da alma
quem ama com o coração
com a alma e com o corpo
esquece de si mesmo e o amor
pessoa de direito público
toma posse e revoga
todas as emoções em contrário
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
saudades de joão sebastião
quando olho no jardim
um cravo
lembro de Bach e
do bar onde ficávamos
e que os franceses
insistem em chamar
café les deux magots
falávamos do som
de Arrigo e
enjoávamos facilmente
do modo como
o avião oscilava
mas conformados pois
a lucidez sempre
estava ali
no bolso prestes
a ser roubada
em qualquer esquina
um cravo
lembro de Bach e
do bar onde ficávamos
e que os franceses
insistem em chamar
café les deux magots
falávamos do som
de Arrigo e
enjoávamos facilmente
do modo como
o avião oscilava
mas conformados pois
a lucidez sempre
estava ali
no bolso prestes
a ser roubada
em qualquer esquina
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
CIRCUNSTÂNCIAS, FUMAÇAS, ETC...
o poderoso encontro
do silêncio era fumaça
sonho ouro
mas não passa
da minha cabeça
sempre fui muitos
diminuído
sinto-me outros
quero apenas quem
tem a porta da
ferida e a chave
à face do outro
ofereço-me
POEMA DE SAMANTHA ABREU
MINHA ÚLTIMA GUERRA
Da minha janela,
todo o espaço que é mundo
(lá daquele canto até o outro),
não me cabe.
Meu peito,
inchado,
está ativando os pinos
de um campo minado.
Dentro de mim
começou a última guerra.
Samantha Abreu
Da minha janela,
todo o espaço que é mundo
(lá daquele canto até o outro),
não me cabe.
Meu peito,
inchado,
está ativando os pinos
de um campo minado.
Dentro de mim
começou a última guerra.
Samantha Abreu
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
POEMA DE FRANKLIN JORGE
Apenas um madrigal
Liberto da cueca
os culhões ao vento.
Escovo os dentes
mais por hábito
que por higiene e,
enquanto a água tépida
escorre da torneira
com a mão esquerda
esfolo o meu pênis.
Liberto da cueca
os culhões ao vento.
Escovo os dentes
mais por hábito
que por higiene e,
enquanto a água tépida
escorre da torneira
com a mão esquerda
esfolo o meu pênis.
Paisagem sem vidro
A poesia cortou a alameda
Pousou nas duas pontas
Depois nas margaridas
Depois na amoreira
A sombra do seu canto
Iluminou a varanda
Pensei ter visto um passarinho
E nem era eu sozinho
Pensei ter visto uma flor alada
E nem era a minha namorada
A poesia fez a curva
E se desfez de mim
A poesia cortou a alameda
Pousou nas duas pontas
Depois nas margaridas
Depois na amoreira
A sombra do seu canto
Iluminou a varanda
Pensei ter visto um passarinho
E nem era eu sozinho
Pensei ter visto uma flor alada
E nem era a minha namorada
A poesia fez a curva
E se desfez de mim
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
terça-feira, 13 de outubro de 2009
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
POEMA INÉDITO DE GERUSA LEAL
Menos mal
Não se meta comigo - ela disse
e maldisse o sorriso sensual
que lhe deu quando o viu sem camiseta.
É que não conhecia-lhe a faceta
que depois, sem mais tudo descobriu.
Quis mandar-lhe pra onde já se viu,
quis mas era mister reconhecer-se
nunca fora amada como tal.
Menos mal se o amor dele foi desses
que a mandado nenhum obedecesse,
ele disse - morena, não faz onda,
e meteu-se, sussurando em seu ouvido:
minha flor, no amor tudo é normal.
Gerusa Leal
Não se meta comigo - ela disse
e maldisse o sorriso sensual
que lhe deu quando o viu sem camiseta.
É que não conhecia-lhe a faceta
que depois, sem mais tudo descobriu.
Quis mandar-lhe pra onde já se viu,
quis mas era mister reconhecer-se
nunca fora amada como tal.
Menos mal se o amor dele foi desses
que a mandado nenhum obedecesse,
ele disse - morena, não faz onda,
e meteu-se, sussurando em seu ouvido:
minha flor, no amor tudo é normal.
Gerusa Leal
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
CANTILENA
não sou dado a discursos
nem às discussôes
ouvi em silêncio a cantilena
a nudez das pessoas não me toca
muito menos das palavras
desfilaram nuas bem próximas
em resumo dizendo que eu nunca a amei
chorei copiosamente
sem soluços
a verdade sempre me comoveu
nem às discussôes
ouvi em silêncio a cantilena
a nudez das pessoas não me toca
muito menos das palavras
desfilaram nuas bem próximas
em resumo dizendo que eu nunca a amei
chorei copiosamente
sem soluços
a verdade sempre me comoveu
TRÊS CARTAS EM MÃOS
CARTA PRIMEIRA
diante do medo
meu sentimento é outro
quem já esteve diante da morte
sabe do que estou falando
a morte não tem face
mesmo assim ela te encara
olho no olho
e você não tem a quem desmascarar
por isso meu amigo
quando a morte vier
não tenha medo
abra bem os olhos
para outros sentimentos
e continue a dormir
CARTA SEGUNDA
se pudéssemos
representar graficamente o tempo
ele teria a forma de um não
não este não comum
redondo
que te impede
mas o não vasto
que te bifurca
e te empurra
em direção ao sim
que não procuras
CARTA TERCEIRA
com aquela proposição deísta
não descartei Descartes
a dúvida de Deus é o seu vir-a-ser e, não sendo, não pode ser
passada a dúvida
Deus torna-se pensamento ou sentimento
a dúvida de Deus confunde-se com a do homem
afinal, segundo as escrituras,
este não é feito à sua imagem e semelhança?
ou o pensamento e o sentimento
possuem outro significado no plano divino?
que imagem e semelhança é essa
sem a aflição e a angústia da dúvida?
somos consequência da dúvida de Deus
ou Deus é a causa da nossa dúvida?
ou descarte outra opção
diante do medo
meu sentimento é outro
quem já esteve diante da morte
sabe do que estou falando
a morte não tem face
mesmo assim ela te encara
olho no olho
e você não tem a quem desmascarar
por isso meu amigo
quando a morte vier
não tenha medo
abra bem os olhos
para outros sentimentos
e continue a dormir
CARTA SEGUNDA
se pudéssemos
representar graficamente o tempo
ele teria a forma de um não
não este não comum
redondo
que te impede
mas o não vasto
que te bifurca
e te empurra
em direção ao sim
que não procuras
CARTA TERCEIRA
com aquela proposição deísta
não descartei Descartes
a dúvida de Deus é o seu vir-a-ser e, não sendo, não pode ser
passada a dúvida
Deus torna-se pensamento ou sentimento
a dúvida de Deus confunde-se com a do homem
afinal, segundo as escrituras,
este não é feito à sua imagem e semelhança?
ou o pensamento e o sentimento
possuem outro significado no plano divino?
que imagem e semelhança é essa
sem a aflição e a angústia da dúvida?
somos consequência da dúvida de Deus
ou Deus é a causa da nossa dúvida?
ou descarte outra opção
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
terça-feira, 6 de outubro de 2009
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
PARA OS FILHOS
Quando ouvi seu coração pela primeira vez (1991)
felizes são as nuvens
porque retém as águas
eu não tenho essa felicidade
sou uma chuva derramada
mas quem retém os mares
mora na minha casa
e consegue libertá-los
com pulsação e asas
Para um mar retido no ventre (1994)
mergulhamos cada um
e a mesmo tempo
na melhor parte do outro
e não deixamos ondas na superfície
nem respingos
descobrimos o segredo
de permanecermos secos
sem tocar o fundo
nem voltar à tona
felizes são as nuvens
porque retém as águas
eu não tenho essa felicidade
sou uma chuva derramada
mas quem retém os mares
mora na minha casa
e consegue libertá-los
com pulsação e asas
Para um mar retido no ventre (1994)
mergulhamos cada um
e a mesmo tempo
na melhor parte do outro
e não deixamos ondas na superfície
nem respingos
descobrimos o segredo
de permanecermos secos
sem tocar o fundo
nem voltar à tona
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
passo em claro
diminuo os passos
na esperança de me perder
aos poucos as pernas
vão se acomodando ao espaço
reservado aos pés
reservado aos pés
e o corpo acompanha
o movimento juntamente
com as mãos
diminuo mais ainda os passos
não perco a esperança
de me perder
aos poucos o pensamento
vai se acomodando aos fatos
nenhum sentimento
acompanha o movimento
lento até a inércia
constato que jamais
me perderei
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
pane seca
o combustível da palavra é a fome
quem emudece diante da comida
sabe do que estou falando
o falar da poesia é outro
quem se cala
diante da página em branco
sabe do que estou falando
o combustível da idéia é a palavra
quem carrega perdas sobre os ombros
sabe do que estou falando
é vária a fome que te vara
é vária a comida que te invade
o vário alimento que te fecunda
a palavra que te cabe
o combustível da palavra é a fome
quem emudece diante da comida
sabe do que estou falando
o falar da poesia é outro
quem se cala
diante da página em branco
sabe do que estou falando
o combustível da idéia é a palavra
quem carrega perdas sobre os ombros
sabe do que estou falando
é vária a fome que te vara
é vária a comida que te invade
o vário alimento que te fecunda
a palavra que te cabe
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
COMUNHÃO DE MALES
a minha dor
a ti me pertence
a tua dor
a mim te pertence
o fio tênue
que nos une
tenso
alonga-se
quase
desfazendo-se
quase
partindo
para sempre
outros fios
que vão
nascendo
terça-feira, 8 de setembro de 2009
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
o poeta posto a nu
o poeta foi descoberto
apesar do terno e da gravata
ou dos sapatos baixos
no meio da multidão ele se destaca
por não possuir nenhum cheiro característico
muitos não sabem
mas o silêncio do poeta
é repleto de palavras
mesmo assim ele é convocado para cantar
mesmo sangrando
o poeta poreja uma palavra
e o verão chega
o poeta lacrimeja uma frase
e vem o inverno
qualquer gesto do poeta
e as estações se manifestam
porém o poeta quer ficar imóvel
não como uma estátua em praça pública
quer ser um dos pombos
que se perdeu da revoada
porque se distraiu catando grãos
entre um silêncio e outro
o poeta foi descoberto
apesar do terno e da gravata
ou dos sapatos baixos
no meio da multidão ele se destaca
por não possuir nenhum cheiro característico
muitos não sabem
mas o silêncio do poeta
é repleto de palavras
mesmo assim ele é convocado para cantar
mesmo sangrando
o poeta poreja uma palavra
e o verão chega
o poeta lacrimeja uma frase
e vem o inverno
qualquer gesto do poeta
e as estações se manifestam
porém o poeta quer ficar imóvel
não como uma estátua em praça pública
quer ser um dos pombos
que se perdeu da revoada
porque se distraiu catando grãos
entre um silêncio e outro
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
estrangeira
a poesia não faz fronteira
com nenhum país
não fala o meu idioma
nem o teu
não sabe quantas vezes
gira ao redor do homem
durante um ano
não sabe a dor
do lado escuro da lua
não sabe andar nua
nem vestida
não sabe olhar sem se ver
não demonstra culpa
quando não é entendida
ou quando o seu sentido
e a sua forma
não acompanham o nosso desejo
ou o seu ritmo está fora do nosso
e não desvendamos o que
seu passo quer marcar
a poesia não quer comida
mas alimenta
não quer vida
mas se movimenta
não quer intimidade
quer ficar trancada no ar
esperando o nosso respirar
a poesia não faz fronteira
com nenhum país
não fala o meu idioma
nem o teu
não sabe quantas vezes
gira ao redor do homem
durante um ano
não sabe a dor
do lado escuro da lua
não sabe andar nua
nem vestida
não sabe olhar sem se ver
não demonstra culpa
quando não é entendida
ou quando o seu sentido
e a sua forma
não acompanham o nosso desejo
ou o seu ritmo está fora do nosso
e não desvendamos o que
seu passo quer marcar
a poesia não quer comida
mas alimenta
não quer vida
mas se movimenta
não quer intimidade
quer ficar trancada no ar
esperando o nosso respirar
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
eu dei na minha mãe
eu dei na minha mãe
o maior susto
quando ela me viu chegar
fantasiado de poesia
ela percebeu
nos desenhos bordados
que eu ficaria mirrado
triste desencontrado
desiludido seco perdido
abatido solitário
desvalido sem caminho
depois ficou conformada
quando expliquei
que na estrada
mais vale o passo
que a chegada
que a dita palavra
não é nada
se não for transformada
em riscos
eu dei na minha mãe
o maior susto
quando ela me viu chegar
fantasiado de poesia
ela percebeu
nos desenhos bordados
que eu ficaria mirrado
triste desencontrado
desiludido seco perdido
abatido solitário
desvalido sem caminho
depois ficou conformada
quando expliquei
que na estrada
mais vale o passo
que a chegada
que a dita palavra
não é nada
se não for transformada
em riscos
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
canto do beijo sem lábio
minha cabeça não está pra beijo
o corpo talvez
e o lábio que se turva
diante do outro que se curva
está aquém
entre a pele
e o momento
entre entre eu disse
sem usar a cabeça
a pele do pensamento
suspensa
pingando saliva
movimentando cartilagens
sem vida
minha cabeça não está
o corpo me fez
curvar o poema
evitando tocar o lábio
pele do sentido
pregada no sangue
movimentando
a palavra exangue
minha cabeça não está pra beijo
o corpo talvez
e o lábio que se turva
diante do outro que se curva
está aquém
entre a pele
e o momento
entre entre eu disse
sem usar a cabeça
a pele do pensamento
suspensa
pingando saliva
movimentando cartilagens
sem vida
minha cabeça não está
o corpo me fez
curvar o poema
evitando tocar o lábio
pele do sentido
pregada no sangue
movimentando
a palavra exangue
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
poética ou
pra não manchar a idéia
a poesia não modifica nada
não vai salvar o mundo
nem afundá-lo
a poesia não evita o sofrimento
nem provoca alegria
alguém já disse
que a poesia é um sentimento
outro retrucou que a poesia
é uma epidemia inventada
para reduzir a população mundial
mas a beleza evitou criando anticorpos
a poesia não promove a paz
nem incita guerras
não é a origem de todos os males
nem evita mal algum
pra mim a poesia
é um fenômeno físico
quando me perguntam
por que faço
respondo que dois corpos
não podem ocupar o mesmo espaço
pra não manchar a idéia
a poesia não modifica nada
não vai salvar o mundo
nem afundá-lo
a poesia não evita o sofrimento
nem provoca alegria
alguém já disse
que a poesia é um sentimento
outro retrucou que a poesia
é uma epidemia inventada
para reduzir a população mundial
mas a beleza evitou criando anticorpos
a poesia não promove a paz
nem incita guerras
não é a origem de todos os males
nem evita mal algum
pra mim a poesia
é um fenômeno físico
quando me perguntam
por que faço
respondo que dois corpos
não podem ocupar o mesmo espaço
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
terça-feira, 4 de agosto de 2009
esperando soluços
a casca da espera
irrompe a planta dos pés
quando eu falava
nem havia palavras
eu te espero
como escuro
é o mesmo
desespero
quando eu falava
nem havia boca
a espera oscula o fácil
mastigar sem cuspe
quando eu falava
nem ouvia
queriam escrever minha culpa
porém não tenho pele
uso apagar sem mostrar
ouso escrever sem me dar
as árvores que me deram as costas
agora se agacham
a casca da espera
irrompe a planta dos pés
quando eu falava
nem havia palavras
eu te espero
como escuro
é o mesmo
desespero
quando eu falava
nem havia boca
a espera oscula o fácil
mastigar sem cuspe
quando eu falava
nem ouvia
queriam escrever minha culpa
porém não tenho pele
uso apagar sem mostrar
ouso escrever sem me dar
as árvores que me deram as costas
agora se agacham
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
não sou mais artista
não sou mais artista
conheci o senso de ridículo
sem me olhar no espelho
não vou mais fazer ninguém feliz
nem me fazer
não que isso seja uma atribuição do artista
mas a felicidade requer
a ausência de senso de ridículo
só os artistas e os felizes
dançam e cantam em voz alta
pelas ruas
e são confundidos com os loucos
não sei lavar os fatos
a água que me cabe
só me afoga
não sou mais artista
quero que me desconheçam
quero que me esqueçam
que não amanheçam ao meu lado
quero ficar rente ao chão
pendurado pelos braços
não sou mais artista
conheci o senso de ridículo
sem me olhar no espelho
não vou mais fazer ninguém feliz
nem me fazer
não que isso seja uma atribuição do artista
mas a felicidade requer
a ausência de senso de ridículo
só os artistas e os felizes
dançam e cantam em voz alta
pelas ruas
e são confundidos com os loucos
não sei lavar os fatos
a água que me cabe
só me afoga
não sou mais artista
quero que me desconheçam
quero que me esqueçam
que não amanheçam ao meu lado
quero ficar rente ao chão
pendurado pelos braços
quinta-feira, 30 de julho de 2009
desconhecida
na ponta do pés
e não consigo alcançar meu coração
ele subiu na esperança de enxergar
alguém que nunca mais vai voltar
meu corpo apodrece antes de mim
apodrece antes do meu fim
raizes atravessam o meu corpo
prova que ainda não estou morto
não sei o que buscam essas raízes
regadas por lágrimas
enquanto isso vou nascendo
antes de me tornar semente
na ponta do pés
e não consigo alcançar meu coração
ele subiu na esperança de enxergar
alguém que nunca mais vai voltar
meu corpo apodrece antes de mim
apodrece antes do meu fim
raizes atravessam o meu corpo
prova que ainda não estou morto
não sei o que buscam essas raízes
regadas por lágrimas
enquanto isso vou nascendo
antes de me tornar semente
POEMA DE G.VIEIRA
REPOÉTICA
porque sou poeta
jogo palavras como dardo
escrevo poemas à foice
pra arrancar flores
e botões da camisa
suja de abraços
a quantas braças do sentir
a tantos nós de mim - poesia
mar que me seca e alarga
entre coisas que sempre
vou desaprender
porque sou poeta
jogo palavras como dardo
escrevo poemas à foice
pra arrancar flores
e botões da camisa
suja de abraços
a quantas braças do sentir
a tantos nós de mim - poesia
mar que me seca e alarga
entre coisas que sempre
vou desaprender
quarta-feira, 29 de julho de 2009
terça-feira, 28 de julho de 2009
segunda-feira, 27 de julho de 2009
quinta-feira, 23 de julho de 2009
dia agnóstico
chega o momento
em que o remédio
não faz mais efeito
os exames trazem
mais dúvidas que certezas
o momento em que é preciso abrir
e depois de aberto
descobrir que o caso
não é mais operável
chega o momento
em que é preciso dizer
o que ninguém quer falar
ouvir o que ninguém quer escutar
dizer o que ninguém quer dizer
chega o momento
em que questionamos à vida
e ela sai à procura da resposta
e nunca mais volta
chega o momento
em que o remédio
não faz mais efeito
os exames trazem
mais dúvidas que certezas
o momento em que é preciso abrir
e depois de aberto
descobrir que o caso
não é mais operável
chega o momento
em que é preciso dizer
o que ninguém quer falar
ouvir o que ninguém quer escutar
dizer o que ninguém quer dizer
chega o momento
em que questionamos à vida
e ela sai à procura da resposta
e nunca mais volta
segunda-feira, 20 de julho de 2009
quinta-feira, 16 de julho de 2009
boaconha
uma ramagem de canabis sativa
tatuada nas costas de uma mulher
lembrou-me de um antigo poema
no qual eu descrevia ervas medicinais
lembrou-me de uma namorada
que me deixou plantado na praça leningrado
sob rega de lágrimas
lembrou-me das várias fomes do não
a vida
que sempre me tratou bem
mesmo sem me conhecer
- como deveríamos tratar a todos -
me faz lembrar de coisas
que eu nunca deveria esquecer
tatuada nas costas de uma mulher
lembrou-me de um antigo poema
no qual eu descrevia ervas medicinais
lembrou-me de uma namorada
que me deixou plantado na praça leningrado
sob rega de lágrimas
lembrou-me das várias fomes do não
a vida
que sempre me tratou bem
mesmo sem me conhecer
- como deveríamos tratar a todos -
me faz lembrar de coisas
que eu nunca deveria esquecer
terça-feira, 14 de julho de 2009
terça-feira, 7 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
terça-feira, 30 de junho de 2009
porco sabor de corpo oco
esperar que a aurora me levante
é o mesmo que esperar que a noite me deite
vai sempre dar
neste gosto porco de crepúsculo
antes de balbuciar alvorada
depois
poesia tá aqui pra isso mesmo
desabotoar os caminhos
para que a solidão não tropece
e fique amontoada
num canto do peito
pesando
além do mais
solidão por solidão
basta a de não ter
teu sangue no meu coração
esperar que a aurora me levante
é o mesmo que esperar que a noite me deite
vai sempre dar
neste gosto porco de crepúsculo
antes de balbuciar alvorada
depois
poesia tá aqui pra isso mesmo
desabotoar os caminhos
para que a solidão não tropece
e fique amontoada
num canto do peito
pesando
além do mais
solidão por solidão
basta a de não ter
teu sangue no meu coração
segunda-feira, 22 de junho de 2009
sexta-feira, 19 de junho de 2009
quinta-feira, 18 de junho de 2009
segunda-feira, 15 de junho de 2009
PERDA, BREVE COMENTÁRIO
nem todo o corpo chora
há uma parte que evapora
quem não sabe ser caco
finge ser inteiro
e obstrui a paisagem
quem não sabe
carregar a nuvem
chove por dentro
quem não sabe
ser sozinho
se dilata
quem não sabe
ser caminho
se bifurca
sexta-feira, 12 de junho de 2009
segunda-feira, 8 de junho de 2009
poeminha engajado
não falo da fome
pra não lembrar da infância
não falo da política
pra não lembrar a militância
não falo das putas
pra não lembrar da doença
não falo da angústia
pra não lembrar que sou poeta
não falo da morte
pra não lembrar onde estou
não falo da vida
pra não lembrar aonde vou
pra não lembrar da infância
não falo da política
pra não lembrar a militância
não falo das putas
pra não lembrar da doença
não falo da angústia
pra não lembrar que sou poeta
não falo da morte
pra não lembrar onde estou
não falo da vida
pra não lembrar aonde vou
redoma
eu te amo não
me livra da morte
corte longitudinal da vida
nos coloca
em lados opostos
eu te amo transparente
pele por onde enxergo o amor
e a impossibilidade de tocá-lo
me livra da morte
corte longitudinal da vida
nos coloca
em lados opostos
eu te amo transparente
pele por onde enxergo o amor
e a impossibilidade de tocá-lo
terça-feira, 2 de junho de 2009
quinta-feira, 28 de maio de 2009
gota submersa
corpo que não quero
ocupa o vário caminho
peço desculpas milimétricas
troco chaves de palavras
varo fugas de raspão
chego em fúria
quero tanto que não falo
mais teria se coubesse
amestro o grito sem perdas
amordaço o tempo sem mandíbulas
o mundo avança em minha boca escancarada
expulso o fruto sem caroço
arrebento em flores sob a terra
eu deveria ser paredes de perfume
porém o chão não tem culpa do alicerce
verto em sins o que não pedes
amputo os braços da ternura
por dentro encontrarás um abraço
num corpo deserto
alma camuflada de miragem
corpo que não quero
ocupa o vário caminho
peço desculpas milimétricas
troco chaves de palavras
varo fugas de raspão
chego em fúria
quero tanto que não falo
mais teria se coubesse
amestro o grito sem perdas
amordaço o tempo sem mandíbulas
o mundo avança em minha boca escancarada
expulso o fruto sem caroço
arrebento em flores sob a terra
eu deveria ser paredes de perfume
porém o chão não tem culpa do alicerce
verto em sins o que não pedes
amputo os braços da ternura
por dentro encontrarás um abraço
num corpo deserto
alma camuflada de miragem
domingo, 24 de maio de 2009
COMO FAZER UM POEMA
primeiro sinta
depois minta
se estiver amando
espere a paixão passar
se estiver com ódio
espere a raiva passar
se estiver feliz
espere a alegria passar
procure uma palavra
com o som parecido
com a que você pretende utilizar
depois faça o mesmo com a outra
depois com a outra
depois com a outra
se o poema tiver
algum sentido
qualquer um dos cinco
prefira o sexto
depois minta
se estiver amando
espere a paixão passar
se estiver com ódio
espere a raiva passar
se estiver feliz
espere a alegria passar
procure uma palavra
com o som parecido
com a que você pretende utilizar
depois faça o mesmo com a outra
depois com a outra
depois com a outra
se o poema tiver
algum sentido
qualquer um dos cinco
prefira o sexto
sexta-feira, 22 de maio de 2009
ODE AMOR
para Si
do amor que eu sentia
e guardei durante
toda a minha vida
não sobrou nem a janela
onde eu te esperava
a casa foi demolida
do amor que me prendia à janela
do tempo aprisionado na gaiola
da migalha atravessada pelo silêncio
da palavra enraizada na distância
pele que despetalha
pelo que desespelo
falo que disclara
do fim que nunca esfero
para Si
do amor que eu sentia
e guardei durante
toda a minha vida
não sobrou nem a janela
onde eu te esperava
a casa foi demolida
do amor que me prendia à janela
do tempo aprisionado na gaiola
da migalha atravessada pelo silêncio
da palavra enraizada na distância
pele que despetalha
pelo que desespelo
falo que disclara
do fim que nunca esfero
quinta-feira, 21 de maio de 2009
poema de FATINHA REGO BARROS
FALE SER
A QUEM POSSA
QUERER ENTENDER
O QUE O POETA SENTE
PARA PODER SENTIR
O QUE NÃO DESFALECE
A QUEM POSSA
QUERER ENTENDER
O QUE O POETA SENTE
PARA PODER SENTIR
O QUE NÃO DESFALECE
segunda-feira, 18 de maio de 2009
COLEIRA DO MUNDO
nem quero saber se estão
vendo o que estou sentindo
voar é o começo do sim
roço as asas no que minto
amarro com sangue
onde nunca cheguei
pouso na palma do não
nem quero saber
se estou vendo
importa que o mundo
me sinta ao redor
vendo o que estou sentindo
voar é o começo do sim
roço as asas no que minto
amarro com sangue
onde nunca cheguei
pouso na palma do não
nem quero saber
se estou vendo
importa que o mundo
me sinta ao redor
terça-feira, 12 de maio de 2009
MADRUGAL
insone
busco no músculo
um sonho um siso
o suor das horas
e o meu
saem do mesmo poro
deploro o sol
que se esconde
em minha fronte
entre os seus dentes
a luz me quer
mastigado abraço
amanheço
busco no músculo
um sonho um siso
o suor das horas
e o meu
saem do mesmo poro
deploro o sol
que se esconde
em minha fronte
entre os seus dentes
a luz me quer
mastigado abraço
amanheço
domingo, 10 de maio de 2009
a quem interessar posse
nada é meu
meu sorriso
viajou no olhar de outrem
meu olhar perdido na paisagem
não mudou a paisagem
nada é meu
esse poema
é a leitura de alguém
meu sorriso
viajou no olhar de outrem
meu olhar perdido na paisagem
não mudou a paisagem
nada é meu
esse poema
é a leitura de alguém
sexta-feira, 8 de maio de 2009
bebendo nuvens
desprovido de equilíbrio
engulo pernas
arroto caminhos
esqueço a terra
pouca coisa me embriaga
a nuvem é uma delas
com a mão sobre o seu ombro
um amigo que abraçamos
não deixa tantas marcas
suporto o mundo
com os músculos
que a nuvem provoca
engulo pernas
arroto caminhos
esqueço a terra
pouca coisa me embriaga
a nuvem é uma delas
com a mão sobre o seu ombro
um amigo que abraçamos
não deixa tantas marcas
suporto o mundo
com os músculos
que a nuvem provoca
quarta-feira, 6 de maio de 2009
BOLETIM
os sentimentos me intubaram
não há remédio
o amor a dois palmos
dos braços de chumbo
a tristeza embutida
no peito inviolável
o amargo planar
da alegria sem asas
constantes fisgadas
na altura da alma amputada
os sentimentos me intubaram
viver não tem cura
não há remédio
o amor a dois palmos
dos braços de chumbo
a tristeza embutida
no peito inviolável
o amargo planar
da alegria sem asas
constantes fisgadas
na altura da alma amputada
os sentimentos me intubaram
viver não tem cura
POÇO DE PELE
com a caligrafia
do meu corpo
me entranho
na página do teu sonho
me despejo em palavras
escritas com pelos
artérias e gozos
não te curvo mais
até o som se abrir
em dois em dias
não te cavo mais
a minha pele
enquanto for a tua
adia o teu chão
onde não me caibo
do meu corpo
me entranho
na página do teu sonho
me despejo em palavras
escritas com pelos
artérias e gozos
não te curvo mais
até o som se abrir
em dois em dias
não te cavo mais
a minha pele
enquanto for a tua
adia o teu chão
onde não me caibo
sábado, 2 de maio de 2009
Assinar:
Postagens (Atom)
ESPERANÇA
quem já foi soldado sabe como se abre um corpo como sabe um pescador como se abre um peixe entre as guelras alguns segundos de e...
-
minha baixa imunidade não me permite tocar as palavras esse meu silêncio pelo que me lembro antecipa meus ossos gostaria de ve...
-
a vida corre mais rápida que nós precisamos encontrar a velocidade da flor e ficar
-
a lua ao fundo antes da lua a árvore com seu vestido verde e sapatos escuros entre os cabelos da árvore a lua ao fundo ou a ...