nos dias que bate um desespero
dá uma vontade de arrancar os cabelos
separar a alma do pelo
vontade de inundar o vento de novelos
ampliar o corpo em pedaços
pendurar os gritos nos terraços
esquecer da pessoa que mora no corpo
pensar que está morto
e transportá-lo para um buraco imaginário
ou até mesmo se jogar num aquário
cuja água não alcance o fundo
tem dias que bate um desespero
e a força do revide vindo em sentido contrário
nos mostra que o desespero
é mais medo do desconhecido
do que nos parece sabido
então o desespero bate bate bate
até que uma hora cansado
senta ao nosso lado
a espera do retorno do fôlego
mas nos recuperamos antes
e diante dele e de nossas cicatrizes
aprendemos que não podemos ser felizes
se ficarmos passivos ao seu lado
então de súbito partimos
depois de tê-lo enterrado