segunda-feira, 7 de novembro de 2022

RUA BENFICA

 

o mais antigo

numa casa antiga

é o silêncio

divide o corredor com o tempo

ambos trôpegos

quase abraçados

espalham grossas paredes

e quando respiram

expiram outras casas

enfileiram ruas

trocam passos por automóveis

tudo é frágil e transitório

o mal não sabe o que significa

a rua não sabe onde acaba

e o bem fica pendurado numa placa

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

DE PRESSÕES

o antidepressivo não faz mais efeito

não encontro um buraco que me caiba

ultrapasso o mundo com meus medos

nem sou mais segredo mesmo que me abram

não vão encontrar a fonte

tudo é água toda funda no silêncio emparedada

tudo é casca do inexistente miolo

repleto da coreografia das estátuas

           

 

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

AQUELES DIAS DE DESESPERO

 

nos dias que bate um desespero

dá uma vontade de arrancar os cabelos

separar a alma do pelo

vontade de inundar o vento de novelos

ampliar o corpo em pedaços

pendurar os gritos nos terraços

esquecer da pessoa que mora no corpo

pensar que está morto

e transportá-lo para um buraco imaginário

ou até mesmo se jogar num aquário

cuja água não alcance o fundo


tem dias que bate um desespero

e a força do revide vindo em sentido contrário

nos mostra que o desespero

é mais medo do desconhecido

do que nos parece sabido

então o desespero bate bate bate

até que uma hora cansado

senta ao nosso lado 

a espera do retorno do fôlego

mas nos recuperamos antes

e diante dele e de nossas cicatrizes

aprendemos que não podemos ser felizes

se ficarmos passivos ao seu lado

então de súbito partimos

depois de tê-lo enterrado

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

VERÃO PASSADO

 

o verão passou

e você permaneceu calada

esperei aquela palavra

ou melhor

qualquer palavra

parecida com um outono menos amargo

ou qualquer outra estação

onde você desembarcasse

sem sustos

sem malas

 

VELOCIDADE

  a vida corre mais rápida que nós   precisamos encontrar a velocidade da flor e ficar