para onde irá meu sangue
depois que tudo terminar
além dos pulsos
deixarei uns copos
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
SABEDORIA DO MAR
o mar que me olha
nunca sabe de quem nunca o viu
não há sal no seu olhar
há marcas de passos
caminhos percorridos
por quem não sabe de onde vem
o mar cabe na minha cabeça
cabe onde pode ser um lugar
o mar cabe onde sabe
nunca sabe de quem nunca o viu
não há sal no seu olhar
há marcas de passos
caminhos percorridos
por quem não sabe de onde vem
o mar cabe na minha cabeça
cabe onde pode ser um lugar
o mar cabe onde sabe
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
LADO DE LÁ DE CÁ
nunca desejei a morte de alguém
esse é um desejo inútil
uma vez que todos vão morrer
desejar a morte de alguém é desejar o óbvio
desejar a antecipação da morte de alguém
talvez seja um desejo mais próximo da verdade
mas como saber se a antecipação é correta
já que não sabemos quando alguém vai morrer
desejar essa antecipação também é inútil
melhor desejar que alguém viva para sempre
e alimentar esse desejo como um sonho
esse é o melhor desejo
porque nunca será realizado
esse é um desejo inútil
uma vez que todos vão morrer
desejar a morte de alguém é desejar o óbvio
desejar a antecipação da morte de alguém
talvez seja um desejo mais próximo da verdade
mas como saber se a antecipação é correta
já que não sabemos quando alguém vai morrer
desejar essa antecipação também é inútil
melhor desejar que alguém viva para sempre
e alimentar esse desejo como um sonho
esse é o melhor desejo
porque nunca será realizado
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
ABANDONANDO CORPOS
abandonamos corpos
é para isso que estamos aqui
abandonamos corpos que odiamos
e que amamos
abandonamos corpos em aeroportos
em plataformas em ruas estreitas
em avenidas em ruas sem saídas
abandonamos corpos em buracos da terra
em buracos da lua
abandonamos corpos nos melhores momentos
nos piores momentos
abandonamos corpos nas geladeiras
em geleiras e pendurados ao sol
abandonamos corpos simplesmente
é para isso que estamos aqui
abandonar corpos do mesmo modo
que os nossos são abandonados
abandonam nossos corpos em prisões
em pátios de hospícios em precipícios
abandonam nossos corpos em hospitais
abandonam nossos corpos
pendurados nas janelas
abandonam nossos corpos
em páginas como essa
é para isso que estamos aqui
abandonamos corpos que odiamos
e que amamos
abandonamos corpos em aeroportos
em plataformas em ruas estreitas
em avenidas em ruas sem saídas
abandonamos corpos em buracos da terra
em buracos da lua
abandonamos corpos nos melhores momentos
nos piores momentos
abandonamos corpos nas geladeiras
em geleiras e pendurados ao sol
abandonamos corpos simplesmente
é para isso que estamos aqui
abandonar corpos do mesmo modo
que os nossos são abandonados
abandonam nossos corpos em prisões
em pátios de hospícios em precipícios
abandonam nossos corpos em hospitais
abandonam nossos corpos
pendurados nas janelas
abandonam nossos corpos
em páginas como essa
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
RESPOSTAS
o que estamos fazendo aqui
por que os pássaros cantam
por que a grama é verde
quem estabeleceu que aquela cor é verde
quem disse que o barulho dos pássaros é um canto
quem disse que estamos aqui
por que os pássaros cantam
por que a grama é verde
quem estabeleceu que aquela cor é verde
quem disse que o barulho dos pássaros é um canto
quem disse que estamos aqui
PROVISÕES
morrerei dentro de trinta anos
provavelmente
talvez eu morra amanhã
ou depois de escrever esta página
talvez eu esteja morto e nem saiba
há trinta anos atrás
eu não pensaria dessa maneira
a vida nem me enxergava
o tempo
cílio pregado errado no meu olho
atravessava a minha escura calma
o tempo
que nada tem me ensinado nos
deixa amontoado
no passado
provavelmente
talvez eu morra amanhã
ou depois de escrever esta página
talvez eu esteja morto e nem saiba
há trinta anos atrás
eu não pensaria dessa maneira
a vida nem me enxergava
o tempo
cílio pregado errado no meu olho
atravessava a minha escura calma
o tempo
que nada tem me ensinado nos
deixa amontoado
no passado
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
MESES CRUÉIS
para quem respira
todos os meses são cruéis
eu faço
não porque eu quero
faço
porque meus braços
me ensinam
as flores do meu cérebro
lembram palavras
nas quais a primavera se ampara
toda árvore é solitária
durante a madrugada
como também é solitário
quem a abraça
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
OCRIDADE
não há paz nos meus cabelos
presos ao tronco
pensando que estão numa árvore
derramam a sombra sobre os frutos
meus gestos são amargos
apesar de belos
amontoam-se entre as outras mercadorias
expostas à venda
mas só as moscas os visitam
presos ao tronco
pensando que estão numa árvore
derramam a sombra sobre os frutos
meus gestos são amargos
apesar de belos
amontoam-se entre as outras mercadorias
expostas à venda
mas só as moscas os visitam
PAPEL
seria fácil
se eu escrevesse para mim
assim nem precisaria escrever
seria mais fácil ainda
se eu escrevesse para o mundo
porém não sou os olhos do mundo
então se não escrevo para mim
nem para o mundo
para quem escrevo finalmente?
respondo escrevendo
se eu escrevesse para mim
assim nem precisaria escrever
seria mais fácil ainda
se eu escrevesse para o mundo
porém não sou os olhos do mundo
então se não escrevo para mim
nem para o mundo
para quem escrevo finalmente?
respondo escrevendo
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
TÉDIO
o tédio rompe
as minhas palavras
como um punho
nos sulcos vazios
de onde elas nascem
acomodo o meu corpo
e me deixo
as minhas palavras
como um punho
nos sulcos vazios
de onde elas nascem
acomodo o meu corpo
e me deixo
ESTAÇÕES PLANAS
o inverno não me quer redondo
o inverno não me quer quadrado
o inverno não me quer
de qualquer forma
presumo que a superfície me queira
rente ao modo de pensar
meu corpo prende o céu ao seu redor
plano
o inverno não me quer quadrado
o inverno não me quer
de qualquer forma
presumo que a superfície me queira
rente ao modo de pensar
meu corpo prende o céu ao seu redor
plano
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
RELÂMPAGO APAGADO
o relâmpago quase alterou o meu canto
era de escuridão e dedos
nem parecia afundado apesar dos lados
um canto sem palavras
apenas o som formando pessoas
era de escuridão e dedos
nem parecia afundado apesar dos lados
um canto sem palavras
apenas o som formando pessoas
NOITE BEBIDA
aquela noite bebida pelo cão
agora jorrada num poste
sob a luz de cheiros
nossos sonos
nossos sonhos
agora jorrada num poste
sob a luz de cheiros
nossos sonos
nossos sonhos
TRUCIDANDO WALT WHITMAN
ontem escrevi um poema
intitulado trucidando Walt Whitman
tratava-se da temporada em que ele
foi doutrinado no inferno
mais ou menos isso
sempre escrevo em folhas soltas
essa anotação deixei no bolso da camisa
e ela foi lavada
Walt Whitman foi trucidado
literalmente
deixo aqui esse registro
intitulado trucidando Walt Whitman
tratava-se da temporada em que ele
foi doutrinado no inferno
mais ou menos isso
sempre escrevo em folhas soltas
essa anotação deixei no bolso da camisa
e ela foi lavada
Walt Whitman foi trucidado
literalmente
deixo aqui esse registro
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
CANTO PERINEANO
foi assim
bem debaixo do orifício
parecia uma dor
mas era só um precipício
foi assim
bem debaixo do buraco
parecia uma dor
mas era só um vácuo
foi assim
quase um orifício
quase um buraco
trocar algo pela dor
era mais vasto que difícil
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
VELOCIDADE
a velocidade ideal
para o sonho
é a poesia
nela desperto
até o melhor momento
o exato fato
do inexato
movimento
para o sonho
é a poesia
nela desperto
até o melhor momento
o exato fato
do inexato
movimento
DIÁSTOLES
pequenos enfartes diários
despertam as formigas da minha boca
elas não sabem onde estão
eu também não sei onde estou
se por acaso alguém souber onde está
por favor não saia do lugar
despertam as formigas da minha boca
elas não sabem onde estão
eu também não sei onde estou
se por acaso alguém souber onde está
por favor não saia do lugar
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
ROSTO
sorrir seria fácil
se eu possuísse uma face
o que carrego no rosto
é algo parecido
com o olho do outro
às vezes sou bonito
às vezes sou apático
na maioria das vezes
nem estou diante
de algum olho
se eu possuísse uma face
o que carrego no rosto
é algo parecido
com o olho do outro
às vezes sou bonito
às vezes sou apático
na maioria das vezes
nem estou diante
de algum olho
ALENTO
breve estarei
mais tranquilo
onde nasce o vento
assim ficarei parecido
boca em forma de alento
fornecendo gritos
PAREDE DE ÁGUA
a lágrima escorre
pelo espelho
lambe a superfície
ambígua do meu corpo
pequena solidão
desamparada
parecendo morta
solta parecendo
claridade
abrindo a porta
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