terça-feira, 29 de janeiro de 2019

NOVENTA DIAS


               para Iri

meu mergulho já durou
noventa dias
ainda não alcancei o fundo
porque talvez não seja desse mundo
aprendi a perder o ar
e permanecer falando
aprendi a calar
com as palavras me olhando
noventa dias
não são noventa flores
nem noventa olhares
nem noventa amores
não são pra qualquer um
são para nós dois
e nem sabemos o que vem depois


terça-feira, 15 de janeiro de 2019

O COLECIONADOR DE PEDRAS


quando eu colecionava pedras
procurava as mais caladas

pedras tagarelas formam furos
denso espaço de musgo

pedras caladas entendem
a inutilidade das palavras

CROCODILOS NÃO DORMEM



crocodilos não dormem
escrever um tratado sobre os sonhos dos crocodilos
seria uma estupidez
mesmo assim vou tentar
porque é para isso que a poesia existe
mesmo que eu falasse
sobre os sonhos dos homens
seria uma estupidez
porque eu dependeria do que eles narrariam
prefiro os sonhos dos crocodilos
porque só vão existir em meu tratado

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

COROLÁRIO


sempre escrevo o mesmo poema
utilizando novas palavras
eu sei o que isso quer dizer
mas repito até não saber


segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

MINHA PALAVRA



minha palavra curva
não preenche o que pretende
reta não se atura
linha que sutura o silêncio
inábil sangue que se diz um sábio
e foge como um incêndio

minha palavra larga
não se apega à altura
queda anunciada sem amparo
corpo que derrama pelo furo

minha palavra calma
não sai da boca do futuro
perece junto com o que fala
parece a argamassa do escuro

DEPOIS QUE MORREM

  sei para onde vão as mães depois que morrem a saudade forma um túnel e a luz que vem em sentido contrário as transformam em cinz...