domingo, 30 de setembro de 2018

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de súbito
a morte  não veio
nem veio
quem eu esperava
nem cheguei
para quem me espera
eu sei que é primavera
mas nem todas as flores sabem
e se metem em invernos incontáveis
e saber que é primavera
não me torna uma flor
sou mais pedra que perda
mais frio que dor
a morte não veio
ou quando veio
eu estava tão distraído comigo
que me enterrei
pensando estar num abrigo
pensando que pensando
eu seria uma semente
mas o pensamento apodrece
e o que cresce
parece o tempo que não nasce




segunda-feira, 24 de setembro de 2018

ESSE TREM QUE NÃO VEM



queria pegar o trem agora
e ir até o fim da linha
porém não existe mais o fim da linha
os trens fazem conexões e
fatalmente
vão te fazer retornar ao ponto de partida
então fico aqui sentado
vendo as paisagens fugindo ao meu lado
e não se repetem
para onde vão as paisagens 
enquanto estou sentado
talvez à procura
de alguém que não me enxergue na paisagem
talvez para as paisagens
exista um fim da linha
um quadro que ao ser pendurado
curve a parede

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

CARÊNCIA EFETIVA


meu coração por fora é assim
parece estar por dentro
meu coração por dentro é assim
parece estar por fora



terça-feira, 18 de setembro de 2018

ENQUANTO O MEU AMOR ESTÁ DORMINDO


meu amor dorme
e nem sabe que eu existo
sonha comigo sem saber
quem eu sou no seu sonho
acorda com o sonho esquecido
mas lembra que foi bom e sorri
o sorriso parece uma janela que não precisa de paredes
mesmo que lembrasse o sonho
não teria a quem contar
meu amor está sozinho
e nem sabe que é meu
vaga pelo mundo
como se não tivesse dono
por isso não tem a quem se entregar
nunca vai me encontrar
vai ficar perdido para sempre
no meio de um poema
como se num poema
fosse permitido ao amor se perder




quinta-feira, 13 de setembro de 2018

ANOTAÇÃO SEM FUNDO

a ilusão do profundo se perde  em segundos
a vida é rasa quase no fundo
e acima do peso da vida
o peso do mundo
respirar é uma constante desavença
pensar que o sangue guardado no corpo é uma doença
não melhora
levantar não compensa
pensar fora da cabeça
fazer parte de outra parte
não faz encher a vida
não nos faz outra peça
somos a mesma que desagrega
pensamos estar rente à vida
estamos abaixo do fundo
olhamos para cima
mesmo sem vista
mesmo sem cabeça
olhamos para cima
como quem pensa

IMUNIDADE

minha baixa imunidade não me permite tocar as palavras esse meu silêncio pelo que me lembro antecipa meus ossos   gostaria de ve...