a água esquenta depressa
e eu não tenho chá
tomo o que o calor oferece
tomo inconsciência
tomo um rumo
não ateio o claro fogo em vão
apenas me deixo derramar feito água
mas só percebo quando o vapor
assume a minha forma
a água esquenta depressa
e eu não tenho chá
tomo o que o calor oferece
tomo inconsciência
tomo um rumo
não ateio o claro fogo em vão
apenas me deixo derramar feito água
mas só percebo quando o vapor
assume a minha forma
a acústica do tempo
não permite que sejamos óbvios
palavras não erguem templos
pelo contrário desfaz rosários
nem precisam ser ditas
para alcançar o teto
bastam seus significados
e o modo como são dispostas
formam um vaso sobre a fala
exalam pessoas e outras coisas plásticas
escorrem entre os aparelhos
não nos permitem acabá-las
e mesmo incompletas não nos amparam
o ócio comeu meus ossos
enquanto posso crio orifícios
e devolvo as tripas para o meu corpo
é o que me resta
esse fio entre o delgado e o grosso
entre o que esqueço e o que decoro
esgarço o nervo e a pele
enquanto a esperança o poro expele
enquanto a palavra é um mero risco
engrosso o couro das sementes
e me deixo regar pelos gritos
a lua ao fundo antes da lua a árvore com seu vestido verde e sapatos escuros entre os cabelos da árvore a lua ao fundo ou a ...