sexta-feira, 26 de junho de 2015

CARTA




queria todo dia domingo
não posso
o tempo me pendura na orelha sob os cabelos
de noite durmo no criado mudo
encho o coração de saúde enquanto brindo
parece água o que preciso
embriaga de outra maneira
sonho construindo camas e nunca acordo
abraço longe sorriso longe palavra longe
nunca meu corpo para sempre

SOLÁRIO




era de fome
a morte retorcida
o mar trouxe

ODE O




o choro é a voz que me acalenta
embora eu não escute mais nada
o choro interno do rio que finge correr
no leito do homem que finge morrer
em direção a um mar que nunca vai alcançar
o sal necessário da lágrima

CHAPÉU



minha linda cabeça
adorna o chapéu
que adorna o olhar
de alguém que me vê surgir
de uma esquina
e me acompanha
até eu desaparecer
na outra esquina

quinta-feira, 25 de junho de 2015

CONFORTO



não preciso da poesia para ficar triste
basta lembrar que estou vivo 

a vida não cabe no meu corpo
ou fica muito frouxa 
ou aperta muito
nunca há conforto

ASSOMBRADADO




o sol acalma o meu trilho
me escondo nas poças de sombra
formadas por luzes esquecidas
quando eu chegar
não vai ser por muito tempo
ninguém enxerga uma sombra no escuro

DEPOIS QUE MORREM

  sei para onde vão as mães depois que morrem a saudade forma um túnel e a luz que vem em sentido contrário as transformam em cinz...