segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

SUBÚRBIO 6



não há mais sombras no subúrbio
o cimento comeu as árvores
crianças usam atiradeiras eletrônicas
matam inimigos virtuais
e as lagartixas proliferam em paz

SOMBRA


o sol mede forças com a sombra
a sombra não se esforça para ter cor
abraça escuro sem manchar a pele
sem usar os braços
seu coração vazio de calor pulsa ao longe
o sol escorrega entre as pregas do esforço
até perder a luz
a noite toda é sombra

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

SUBÚRBIO 5


caminho pela infância
sem lembrar
cabelos cortes cicatrizes
costuram o sol por dentro
eu sou a sombra
que se oculta em cada raio
e sinto a dor da superfície
antes de ser tocada

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

OCEAMO


Para Iri

oceanos cabem em órbitas
mesmo as que não alagam
mesmo as que apenas alargam
outros oceanos que se preparam
para ser de olhos que se alagam
para ser de olhos

O QUE FAÇO COM O SOL



o que faço com o sol não é da minha conta
se uso como conta de um colar
se colo na ponta pra contar
se canto no conto pra apontar
nada tem importância
o que faço com o sol não é da tua conta
se conto e te pões a pensar
se penso em te contar
se o sol não deveria estar nesse lugar
pouco importa
para fazer com o sol não há porta
é todo parede sem sombra
é todo de sede
e não mede
o que faço com o sol não tem a menor importância

ESQUERDA DIREITA VOU VER



o poeta de direita foi pego pela patrulha ideológica da esquerda
o poeta de esquerda foi pego pela patrulha ideológica da direita
em ambos os casos foi utilizada a tortura
o poeta de direita e o poeta de esquerda
foram obrigados a recitar seus poemas
até que os patrulheiros ideológicos
começassem a chorar poesia
dia e o noite
noite e dia
e o alagamento provocado pelo choro
curvasse o direcionamento dos planos
e o mundo submerso por esse oceano
confessasse onde estava escondido o ser humano

TUTANO

  tá difícil o mundo quando parece que vamos engolir destempera   e em seu lugar vai a nossa carne a parte longe dos ossos   p...