o que a minha boca faz
em benefício próprio
nem ela pode falar
talvez sorrir modifique a
a paisagem a ser engolida
talvez morder altere a
forma da palavra a ser dita
abraçado ao silêncio jaz
o poema que a minha boca faz
o que a minha boca faz
em benefício próprio
nem ela pode falar
talvez sorrir modifique a
a paisagem a ser engolida
talvez morder altere a
forma da palavra a ser dita
abraçado ao silêncio jaz
o poema que a minha boca faz
não existem poemas
melhores que os outros
existem os piores
e a estes dedicamos o melhor
da nossa parte
até que ele alcance
o melhor da pior parte
não existem poemas
piores que os outros
existem os melhores
e a estes dedicamos o pior
da nossa parte
até que ele alcance
o pior da melhor parte
não existem poemas
melhores nem piores
nem existem poemas
e a estes dedicamos
nossos melhores
desastres
como este
por exemplo
as mães sempre voltam
mesmo as que não são aladas
mesmo as que são feitas de
espuma
e que flutuam longe do alcance
de nossos olhos
as mães sempre voltam
mesmo as degoladas
cujos rostos não são mais
possíveis
e mesmo as cegas
nos alcançarão com o tato
ou as cegas amputadas
nos encontrarão pelo cheiro
as mães sempre voltam
mesmo as mortas
que nos ofuscam
com a sua luz embalsada
as mães sempre voltam
mesmo que não queiram
mesmo que nem existam
brotarão do tronco da memória
repleta de tristezas
interrompida aqui e ali
por algo parecido com a alegria
e nem saberemos que é alegria
mesmo assim será suficiente
para nos fazer sorrir
às vezes o poeta acerta na veia
geralmente quando isso acontece
é tarde demais
não dá tempo de chegar a tempo
a palavra que o poeta buscava
desaparece na página
e a veia que ele pensava que acertara
não passa de uma artéria
obstruída pela fala
parece leve parece breve tudo é tenso e denso santos embaralhados atravessados pela luz e pela...