detesto poemas otimistas
daqueles em que parece que a morte não existe
daqueles em que a dor é uma exceção
daqueles poemas que mencionam flores
como se elas não nascessem do estrume
daqueles em que a felicidade transborda
como se fosse um rio sem leito
detesto poemas otimistas
que não provoquem lágrimas de dor
ou preocupações com o mundo
detesto poemas iluminados
por luzes artificiais
irrigados por sangue de tipo incompatível
detesto poemas otimistas
que só conseguem ficar de pé
com o auxilio de muletas
detesto poemas otimistas
encharcados de perfumes baratos
ou levemente perfumados com perfumes caros
detesto poemas otimistas
que parecem estar sempre conversando conosco
mas não entendemos nenhuma palavra
detesto poemas otimistas
que tentam nos fazer rir
quando estamos sem dentes
que tentam nos fazer viver quando
estamos morrendo
que tentam nos fazer pensar
quando queremos apenas viver
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