terça-feira, 29 de maio de 2018

CEMITÉRIO


gente que nunca mais vou ver
gente que nunca mais vai me ver
gente que não quero ver nunca mais
gente que não quer me ver nunca mais
gente que eu nunca quis ver
gente que nunca quis me ver
gente que não tá nem aí
gente que não tá nem aqui
nem acolá nem ali
nem vai estar
nem vai voltar
nem vai ficar
gente que não sabe nem que eu existo
gente que existia e eu nem sabia
gente que passou por aqui
quando eu não estava
gente que não estava
quando eu passei por aqui
gente que sentou ao meu lado
e eu não conhecia
gente que me conhecia
sentou ao meu lado
mas ficou calado
assim como eu fiquei
quando sentei ao lado
de quem eu conhecia e não falei
gente que vai ficar
lado a lado comigo
mesmo sem saber
que está ao meu lado
para sempre calado
calado para sempre
calado
parado no escuro
de um buraco
com fundo
mas que no fundo
nem adianta muito
ter fundo
deveríamos todos ir para o outro lado
o lado onde não houvesse fundo
nem houvesse mundo
onde precisasse conhecer alguém
para ficar ao teu lado cabisbaixo
esperando uma resposta
que não vem



Nenhum comentário:

DEPOIS QUE MORREM

  sei para onde vão as mães depois que morrem a saudade forma um túnel e a luz que vem em sentido contrário as transformam em cinz...