quinta-feira, 30 de novembro de 2017

MÃO DE BORBOLETA

boa viagem de volta
deixe a esperança
e a mão estupenda
de carregar borboletas
porque as asas foram esquecidas
entre a folhagem
e o pó colorido formou essas flores


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

SE DOER AVISE



quando começar a doer me avise
assim eu interrompo
o que eu estava enfiando retiro
espero o momento oportuno
quem vai saber da dor é você
daqui não vai dar para eu ver
a não ser que faça uma careta
mas nem toda careta é de dor
não sei como isso começou
sei que já estamos na metade
e já que estamos aqui
logo chegaremos ao fim
também se não doer
não precisa avisar
sei muito bem onde vou chegar
se assim eu continuar
e se doer e gostar
também não precisa avisar
o que você tem a fazer
é fingir que a careta é de prazer



VOSSO VENTRE

ela expulsou meu ventre
quando eu era insosso
expulsou meu ventre
quando eu saía do estado líquido para o gasoso
ela expulsou meu ventre
como o balão expulsa o ar
lambendo a labareda
provocando náuseas
no tubo do absurdo
ela expulsou meu ventre
entre dentes entrementes
eu nem era boca
enquanto pronunciava
discurso do cinema mudo
ela expulsou meu ventre
sem usar espadas
nem construir paraísos
expulsou sem usar as mãos
nem cavar juízos
nem buscar motivos
expulsou como quem come
como quem some
como quem nome
como quem deita dormente
como quem sonha ter dentes
como se eu tivesse ventre



sábado, 18 de novembro de 2017

SEM TUA AUSÊNCIA ME IGNORO

eu não queria te incomodar com a minha ausência
troquei a chuva pelos vasos
eles te plantam no espaço
enquanto lembram que molhavam
onde era nuvem floriu o estrume
e a raiz fingiu que era de pele
eu não queria me incomodar com a ausência
espalhei espaços onde era abraços
onde era começo avenidas
repletas de curvas equivocadas
então não peça então não meça
fale cada palavra como uma promessa
eu não devia te incomodar com a minha presença
mesmo que eu cale ainda serei corpo
ainda que eu baila ainda serei morto
mesmo que eu falha ficarei absorto
ainda que eu fosse um cais não haveria porto
mesmo que eu nasça ainda serei um aborto


domingo, 5 de novembro de 2017

NUVENS

as nuvens estão pensativas
talvez chovam
talvez sigam
talvez permaneçam
paradas sobre a vida
talvez nunca sejam tocadas
talvez sejam feridas
seria mais fácil dizer
que as nuvens sou eu
porém nunca sonho com o mundo
e no mundo sonhado pelas nuvens
o que se move não sou eu


terça-feira, 31 de outubro de 2017

TURVA



a vida é clara
como a água
finge que evapora
mas não mora
quando desaba
não se enxerga
e sendo água
não se curva
mente que é infinita
e logo se finda
sempre grita
e ao gritar se turva
mantém-se calma
mesmo quando agita
estrangula a alma
quando a imita

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

UM DIA, QUANDO EU ACORDAR



eu não estava preparado para isso
acredito que ninguém esteja
mas isso veio dessa forma
e não havia como mudar
parecia que estava apenas na minha frente
no entanto estava em todo lugar
para onde eu me dirigisse
mesmo se eu fugisse
isso estaria por toda parte
ao redor e por dentro
na periferia e no centro
e mesmo tão presente
todo dia é diferente
finge parecer igual
para que possamos repetir os mesmos gestos
quando na verdade estamos cavando
o nosso próprio abismo
ao repetir os mesmos gestos
e aos poucos vamos afundando
sem nem perceber
e a luz vai sumindo
sumindo
sumindo
até apagar de uma vez

TUTANO

  tá difícil o mundo quando parece que vamos engolir destempera   e em seu lugar vai a nossa carne a parte longe dos ossos   p...