quarta-feira, 3 de setembro de 2014

ALGO PARA NÃO SER PUBLICADO


de uns dias para cá ou mais
não sei precisar exatamente
me vi perguntando por que permaneço
por aqui a escrever essas amenidades
ou outras palavras e frases mais duras
para que acordem para algumas coisas
que tento dizer
e para isso utilizo coisas fúteis
como as palavras ou piores
como as ideias
e não vejo como consigo formar
ou palavras ou frases
que possam trazer alguma contribuição
para o panorama geral da nossa
literatura em língua portuguesa
ou outra qualquer língua
que se proponha a traduzir essas bestialidades
nas quais procuro me infiltrar
mesmo com essa capacidade de fuga
que herdei do silêncio
por isso constantemente
recorro a ele como quem grita
muitos dias após a extração da língua
e esse grito silencioso
pudesse formar algum tipo de aglutinação no ar
parecida com alguém
que ao ser apresentado conseguisse
manter a conversa agradável
por alguns instantes
até que a agonia da inexistência desse alguém
submetesse o interlocutor a refletir
sobre o modo como levamos nossas vidas
ao atravessarmos as ruas sem tropeçar
enquanto alguns alugam as pernas
como modo de sobrevivência
ou o modo como levamos a comida à boca
sem nenhum constrangimento diante
da fome que ainda assola
em algumas partes do planeta
ou não pensassem em nada disso
e simplesmente vivessem essa vida
como parece que a maioria continua vivendo
pensando nas coisas que precisam ser feitas
a partir de amanhã e no dia seguinte
ou nas coisas que precisam ser feitas nesse momento
sem precisar pensar nos outros
ou na forma como os outros estão pensando
principalmente ao seu respeito
viver
se é que se pode chamar isso de viver
afinal é o verbo oficial instituído para isso
e o qual devo usar nesse momento
sem precisar recorrer a outras palavras ou frases ou ideias
que fujam do idioma adotado nessa parte da terra
isso tudo e algo mais que agora não me vem
isso tudo motivou a escrever isso
que escrevo nesse momento
e que provavelmente nunca será publicado


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