quarta-feira, 26 de junho de 2013

NINGUÉM ME AVISOU QUE EU ESCREVERIA ASSIM

ninguém me avisou que sangraria
se eu soubesse
teria começado mais cedo
descobriria palavras nas pedras
nos fios de cabelos do tempo
teria prestado mais atenção
quando o silêncio fazia a curva
e derrubava a angústia bifurcada
ninguém me avisou que doeria
se eu soubesse
nunca teria interrompido
faria poemas sem fim
principalmente
quando eu não estivesse presente
teria me postado
de maneira que meu corpo
não fosse notado
espalharia minha alma
por todos os cantos
seria a melhor música silenciada
ninguém me avisou que eu sofreria
se eu soubesse
teria murchado com mais força
teria mostrado a madrugada
que cobria a minha entranha
teria me iludido com mais facilidade
teria sido o primeiro a arrancar
os dentes da felicidade
ninguém me avisou
que tudo terminaria assim
ninguém me disse
que a dor nunca teria fim
ninguém me encaixou no precipício
ficaram frouxos meus nervos
meus medos
meu modo de esquecer o princípio
ficaram frouxas as palavras

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